23/11/2009

O RETRATO AMARGO DE UM PARTIDO POLÍTICO


Francisco Azevedo Brandão


Vasco Pulido Valente, cronista lúcido e frontal, tece, hoje, na sua habitual coluna no «Público», o retrato a corpo inteiro de um Partido em coma, dividido em tricas mais ou menos acessórias que o têm prostrado irremediavelmente na cova funda de um navio à deriva. Intitulando a sua crónica de «A Agonia de um Partido», Vasco Pulido Valente escalpeliza, sem dó nem piedade, as causas da agonia do PSD. Diz ele: «...O PSD apodrece. A derrota eleitoral e a permanência de Ferreira Leite, não contribuiu, como era de prever, para uma transição regular e ordeira. Pelo contrário. A intriga ferve por toda aparte: nas distritais, no Parlamento, na direcção. Personagens completamente desconhecidas vieram à superfície na sopa turva de uma guerra civil interminável, enquanto diariamente se fazem e e desfazem alianças sem programa, nem propósito...Não se consegue imaginar uma situação mais catastrófica. Pior ainda, além das grandes divisões do passado (entre a «social-democracia» da elite e o populismo das «bases», por exemplo), apareceram agora novas divisões...No fundo, o PSD anda à procura de um chefe e não encontra nenhum. E não encontrando nenhum, acabará fatalmente com um chefe de acaso e de recurso, que presidirá, inerme, à sua desintegração final. A República, como incessantemente se repete, depende dos partidos. Com o PSD, já não pode contar». Aqui está, preto no branco, a situação catastrófica de um Partido que não tendo sabido aproveitar as inúmeras «trapalhadas» de um primeiro-ministro a prazo certo, se tem deixado estiolar miseravelmente às mãos cansadas de quem nunca devia ter assumido a sua condução. Mas a situação a que o PSD chegou não é novidade para todos aqueles que, a quando da eleição para líder do Partido, estiveram ao lado das outras candidaturas que não a de Manuela Ferreira Leite. Na circunstância, eu próprio fui mandatário em Santa Maria da Feira da candidatura de Pedro Santana Lopes a líder do PSD, profundamente convencido de que era o único capaz de vencer José Sócrates, por conhecer bem os seus tiques, as suas manhas e todo o seu perfil político e psicológico. Nesta conformidade, no dia em que Manuela Ferreira Leite foi eleita líder do Partido, não pude deixar de dizer ao Dr. Pedro Santana Lopes e ao Dr. Luís Montenegro que o PSD acabava de cometer um autêntico suicídio político. Esta convicção não foi, de maneira nenhuma, o vislumbre de um visionário. Qualquer um que estivesse com espírito livre e isento, sem compromissos de espécie alguma e sem estar à espera de quaisque benefícios políticos, chegaria à mesma conclusão. Quisera não ter tido razão!