24/11/2009

Crash ou mudança necessária?


Mário Russo

As bolsas mundiais estão a recuperar do crash vivido na sequência da crise do subprime e dos produtos gananciosos inventados pelo sistema securitário e financeiro mundial, mas sente-se que ainda não é com a confiança característica dos períodos estáveis. Há movimentações tão voláteis que revelam a histeria em que os mercados vivem. De qualquer modo é sinal da recuperação da economia como resultado da maciça injecção de fundos para evitar o colapso do modelo capitalista implantado há muito tempo.

Mas este modelo, baseado no desperdício e na sobre exploração dos recursos naturais, será sustentável? Penso que não. Acabou-se o regabofe em que o modelo viveu desde a década de 50 do século XX com o apogeu nos primeiros anos deste século.
Para sobreviver, o presente modelo necessita de produzir cada vez mais, para garantir o consumismo que alimenta a máquina trituradora. Mas este modelo já não consegue alimentar a mão-de-obra existente. Cada vez mais gente fica à margem do mercado necessitando de apoios estatais, agravando os défices governamentais, porque a automação, as novas tecnologias e equipamentos, produzem com reduzido auxílio humano.

Este modelo incentivou o regabofe do desperdício de recursos. Gastar, independentemente da necessidade, era o lema. A sociedade foi educada para extrair o máximo do planeta, para descarregar os seus desperdícios na terra ou nos recursos hídricos, como se estes fossem uma grande cloaca. Pensava-se que esta “farra” fosse ilimitada, mas muitos já descobriram que não é assim.

Só uma mudança radical de vida é sustentável. Há que apostar na educação para a poupança dos recursos e do ambiente. Tem de se saber dar valor às coisas. A vida democrática que conhecemos não passa de libertinagem e de uma vivência apenas com direitos e pouco respeito a valores que não se defendem a si mesmos. Esta democracia estará morta, se não quisermos que seja o caos a instalar-se com a fome e a miséria, seguida da espiral de violência que os conflitos sociais são pródigos.
Os sindicatos aperceber-se-ão que a reivindicação salarial apenas já não tem lugar, porque será pregar no deserto. Vão deixar de apoiar tudo e todos, mas apenas os que realmente merecem, e não como hoje, sejam malandros ou não. As pessoas começarão a perceber que precisam de ser avaliadas e de produzir, pois também têm deveres.

Emergirá uma sociedade competitiva, poupada e com responsabilidades a todos os níveis. Qualquer semelhança com a actual será mera coincidência. Poderemos não aderir a esta nova filosofia, mas o desfecho será catastrófico.

Está nas nossas mãos mudar de vida, para evitar um longo período de agonia, que as actuais Bolsas de valores estão a mascarar com uma euforia típica das “bolhas”. Está para vir a correcção desta febre eufórica com consequências imprevisíveis na confiança da apregoada recuperação económica (a ideia de que o pior já passou, pode estar errada).
O tempo é de mudança, o resto é desperdício.