A censura, no sentido de impedir que determinada informação chegue a determinadas pessoas, é algo que pode ser muito prejudicial a quem a exerce. Só pode ser eficiente se for absoluta e conseguir que nem a mais pequena parcela dum conhecimento possa escapar, o que é extremamente raro e muito difícil, especialmente na era actual, com os sofisticados meios existentes. Quase sempre, quaisquer acções para encobrir a totalidade dos factos levam a pensar que, se se pretende esconder, é porque a realidade é muito grave, admitindo-se sempre o pior. Com frequência, a realidade não é tão má como os que sofreram a censura pensam que é. Ou seja, obteve-se um resultado pior do que se não tivesse havido acções de encobrimento ou destruição de informação e se deixasse que os factos fossem revelados. Uma boa prova dessa situação é evidente nalguns escritos publicados em jornais do pós-25 de Abril, com os textos a mostrar os cortes feitos pela censura da anterior ditadura, aliás, na maior parte dos casos, da responsabilidade de pessoas de fraco discernimento, que cortavam textos realmente inofensivos e não percebiam alguma escrita mais subtil. A menos que a realidade seja ainda mais grave do que a mais avançada imaginação possa pensar, os prejuízos da censura, dantes como agora, são enormes.
Miguel Mota
Miguel Mota