20/10/2009

E agora Sr. Engenheiro?


Mário Russo

Governar sem maioria é o desafio que terá pela frente José Sócrates, escolhido pelos portugueses para esta tarefa. De fato, os portugueses tiveram a oportunidade de escolher outra via, mas sentiram que, apesar das trapalhadas da anterior legislatura, José Sócrates está melhor preparado que os seus adversários. Isso foi patente nos debates, em que o PM mostrou que é um estudioso e obcecado pelo conhecimento profundo dos vários dossiers de governo, ao contrário dos adversários que ofereciam o céu para obter votos dos incautos.

Sócrates deverá formar um governo ágil, com menos ministros e muito menos secretários de estado. Terá que dar menos alimento à paquiderme máquina partidária. Terá de escolher gente competente e leal para traçar um rumo e um desígnio para Portugal. Explicar muito bem aos portugueses o que pretende, com que meios e em que tempo. Não pode mentir, nem prometer o que não pode cumprir e, muito menos, dizer que as “coisas são mais graves do que o que pensava”, para justificar mudanças (faltar às promessas).

Terá o inefável discurso de oposição de Louçã, Portas e Jerónimo e a redutora oposição de Manuela Ferreira Leite. Todos prometerão tudo a todos e não pouparão o PM nos seus projectos de governo. Isto obrigará a um paciente costurar de consensos, tirando partido da contradição deste tipo de uniões de circunstância para fazer passar a mensagem. Aliás, deverá ser melhor explicada ao povo, que aos partidos, pois estes terão sempre a tentação de derrube, nem que seja pelo cansaço.

Para esta tarefa, Sócrates tem de ter uma equipa coesa e competente, evitando erros de “casting” como os que cometeu na primeira legislatura. Deve evitar os radicais da teimosia e da sapiência truculenta. Deverá propor um programa de governo credível e que retire Portugal do atoleiro em que se encontra. Não deverá desviar-se da rota, mas aceitar os contributos que legitimamente avalie como positivos.
Forçará, no entanto, “a nota” quando a oposição se manifestar ruidosamente e de forma inconsequente: nessa altura deve exigir eleições antecipadas, para o que deverá ter a cooperação estratégica do Presidente da Republica.

Daí não ser avisado manter braço de ferro com Cavaco. A estupidez dos estatutos dos Açores e diplomas de igual quilate devem ser abandonados. Sócrates deve pôr na ordem a JS, um bando de garotos que perturba o equilíbrio necessário ao país. A imaturidade revelada pelos jotas é demais evidente que não são parte da solução, mas do problema.

Esta legislatura pode, ainda assim, ser melhor que o esperado, assim tenham noção de Estado, os políticos de todos os partidos. Sei que é pedir muito a quem já deu provas de egoísmo partidário, mas a esperança é a última que morre.