Mário Russo
Manuela Ferreira Leite acaba de apresentar o programa eleitoral do PSD, que o disponibilizou pela internet, tal como fez o PS. Este programa de 41 páginas tem tudo para ser lido, ao contrário do PS, com mais do triplo de páginas, com muito festim e linguiça.
Todos deveríamos ler os programas dos partidos e depois avaliar o do partido que governou. Era um exercício de descoberta dos pinóquios. Promessas para inglês ver e desvios abissais dos seus objectivos escritos. Assim é com o programa anterior do PS e que repete no actual. As promessas que não cumpriu, ressuscita-as no actual programa.
O PS de Sócrates elegeu como “malandros” os funcionários públicos, os professores, as forças de segurança e os magistrados, mas agora diz que tem de prestigiar justamente estas classes corporativas. Os professores agora são o motor da sociedade e responsáveis pelo sucesso escolar atingido. Falta de memória e de vergonha.
No programa do PSD também há promessas, algumas delas em contra-ciclo com o passado, pois foram medidas adoptadas pelo PSD enquanto governo. Promete agora baixar alguns impostos de modo a dinamizar a competitividade, que me parecem acertados. Porém, ambos prometeram no passado exactamente medidas deste quilate e fizeram o contrário, argumentando que não conheciam o estado das finanças. Mas se não conheciam, reza a prudência, não deveriam prometer o que não podem cumprir.
O PS, na voz de Augusto Santos Silva, no seu tom jocoso e de vómito, veio zurzir contra o programa do PSD, como lhe competia como oposição. Fê-lo, como de costume, da pior maneira, pois desvalorizou o programa, mentiu acerca do mesmo e classificou-o como um programa pela negativa, dizendo que o seu é pela positiva.
Na verdade o PSD pretende clarificar no seu programa o que vai fazer, designadamente a revisão das obras faraónicas do PS. Não é ser negativo, mas corrigir a rota.
Também condena o programa por não ter dimensão social e que pretende destruir o SNS. Justamente o PS que mais cortou direitos sociais de que há memória, quase destruiu o SNS, vem condenar o PSD, que na verdade não pretende diminuir nem destruir o estado social ou o SNS.
Aliás, no SNS, o PSD pretende acabar com a esdrúxula taxa moderadora para cirurgias e internamentos que Correia de Campos introduziu, ao arrepio da lógica da taxa moderadora (disciplinar as consultas e utilização abusiva dos serviços hospitalares). Medida mais que acertada e que peca por tardia.
No domínio político há um compromisso do PSD em diminuir a AR para 180 deputados. Prometem também a introdução do voto electrónico. Ainda bem.
Pena que o PS não tenha memória e continue a culpar os anteriores executivos, depois de estar a governar há 4 anos. Também não aprendeu com a crise profunda, pois teimosamente mantém obras megalómanas como se o mundo não tivesse passado por nenhuma turbulência.
MFL foi a autora do PEC e de outras excentricidades enquanto governante, que agora promete extirpar. Tem mais que justificativas para o fazer, designadamente que aprendeu com a crise e que o mundo é diferente. Mas ficaria bem se explicasse porque o faz.
Os portugueses devem estar mais atentos aos programas para decidir o sentido de voto e exigir mais dos políticos. Não o fazendo, não se podem queixar da péssima qualidade de governação de que são brindados, nem do cinzentismo dos seus deputados.