19/08/2009

Enquanto Republicano e Laico…


…Sou presidente da Academia de Estudos Laicos e Republicanos e sou director pedagógico da EPAR Escola Profissional Almirante Reis.

Como cidadão não deixei de me divertir ao ler que o sr Duarte Nuno, assumido enquanto duque de Bragança e enquanto candidato ao trono de Portugal, acha que o sucedido na Câmara Municipal de Lisboa foi “uma irreverência própria da juventude…”. Chamaria a tal dor de cotovelo…

Já enquanto presidente da Academia de Estudos Laicos e Republicanos e director pedagógico da EPAR Escola Profissional Almirante Reis e sabendo que nos encontramos em cima do centenário da 1ª Câmara Municipal Republicana e da Republica Portuguesa, entendi que deveria participar no debate gerado pelos “31 da Armada”, recordando um pouco de História do Portugal quando era ainda Império…

Claro que é duvidoso que os do “31 da Armada”, sejam ou não irreverentes, conheçam estas parcelas da História e que vou passar a relatar, citando um texto de F. Keil do Amaral, “Histórias à Margem de Um Século de História”, (Seara Nova 1970), onde o autor recorda, por via da sua família, aspectos vários das Lutas Liberais em Portugal, não poucas delas contra uma decadente Monarquia.

Assim, e começando por recordar o Ultimatum Britânico a Portugal,

“É pouco conhecida a nota do Governo inglês, causa directa desse abalo. E lida agora, a 74 anos de distância,…Desintegrada das circunstâncias que lhe conferiam carácter vexatório e nos colocavam numa situação dramática, ressalta a mediocridade do fraseado, a desproporção entre uma prosa banal e o seu terrível alcance: “O que o Governo de Sua Majestade deseja e em que insiste é no seguinte : Que se enviem ao Governador de Moçambique instrucções telegráphicas immediatas, para que todas e quaisquer forças militares portuguezas, actualmente no Chire e nos paízes makololos e machonas se retirem. O Governo de Sua Majestade entende que, sem isto, as seguranças dadas pelo Governo Português são illusórias.

Mr Petre ver-se-há obrigado, à vista das suas instrucções, a deixar Lisboa com todos os seus membros da sua legação, se uma resposta satisfatória não for por elle recebida esta tarde; e o navio de Sua Majestade Enchantress está em Vigo esperando as suas ordens.

Legação britânica, 11 de Janeiro de 1890”

F. Keil do Amaral recorda que em Lisboa esta carta gerou o fim do mundo…”Mas o Conselho de Estado, presidido por D. Carlos, e o Ministério, abdicaram pouco depois de qualquer atitude viril e cederam sem brio às imposições estrangeiras”

E, citando Basilio Telles, “O ultimatum, a sessão agitada do Conselho d’Estado, a resolução tomada por esta corporação e o ministério, divulgaram-se com a rapidez do relâmpago…O effeito foi prodigioso. N’um relance magotes movediços e frementes manchavam o pavimento das ruas e praças; os cafés da Baixa, repletos, estavam em ardente ebulição; as vociferações, os protestos, as injurias…entraram a cahir como granizo…O rei e os “cobardes” que tinham subscrito as exigências do gabinete de Inglaterra eram, litteralmente, esfarrapados n’estes primeiros golpes de língua…”.

Guerra Junqueiro escreveria também, “Eu rei de Portugal, súbdito ingles, declaro que à nobre imperatriz das Indias e ao preclaro Lord Salisbury entrego os restos duma herança que d’um povo ficou à casa de Bragança, dando-me em volta, a mim e ao príncepe da beira a deshonra, a abjeção, o trono…e a Jarreteira”.

Nasceu então, pelas mãos de Keil do Amaral, avô, e de Henrique Lopes de Mendonça, compositor e poeta, nesta exaltação anti imperialista britânica, a Portugueza, ainda com o texto onde se podia ler – contra os bretões marchar marchar!

Mas este relato fá-lo-ei em outro texto!

No entretanto fica, aqui, relatado e bem, essencialmente por F. Keil do Amaral, as raízes da revolta que conduziram ao assassinato de d. Carlos, rei, e pouco depois, à implantação da República!

Fiquem pois os do “31 da Armada” com a bandeira da Câmara Municipal de Lisboa, pois, nós, Republicanos ficamos com a certeza de que, na Câmara já não presidem dos que se agacham aos poderes imperiais dos britânicos.


Joffre Justino