Francisco Azevedo Brandão
«Os Lusíadas», de Luís de Camões voltou novamente à baila pelas piores razões.Se no auge da revolução de Abril foi miseravelmente apodado de poema fascista pelos pseudo-revolucionários de pacotilha, vêm agora os chamados «especialistas» (t'arrenego Satanás!) dizer que «Os Lusíadas» não têm a ver nada com a verdade e é pouco patriótico». (Miguel Tamen, professor de Teoria da Literatura - «Diário I, de 10 de Junho, 2009). Hélio Alves, professor da Universidade de Évora, no mesmo jornal, vai mais longe, afirmando, sem rebuço, que o poema despreza as massas populares», baseando-se, com estupefacção minha, na passagem em que Camões canta : «No mais, Musa, no mais que a Lira tenho/ Destemperada e a voz enrouquecida/ E não do canto, mas de ver que venho/ Cantar a gente surda e endurecida» (Canto X, 145), e ainda quando se refere aos navegadores portugueses: «Os rudes marinheiros(...) julgando as coisas só pela aparência» (CantoV, 17). Na pequena entrevista ao mesmo jornal, Hélio Alves continuando na sua insólita e estranha argumentação acrescenta que «o poema de Camões está concebido como uma lição de política e é, de facto sobre Portugal como entidade politicamente definida. Isto não significa que seja sobre os portugueses, nem sobre um «herói colectivo». Trata-se de poema aristocrático e erudito». E continua com esta «boutade»: «Os Lusíadas» não celebram uma colectividade, mas uma pluraidade / de reis, governadores e mártires)». Perante estas enormidades de «especialistas», temos de convir que há em todas estas afirmações um pensamento ideológico ultrapassado, obsoleto e longe da realidade subjacente ao poema de Camões. Ao falar-se aqui e agora de «massas populares», está-se a ver o poema aos olhos da nossa época e não quando foi escrito, em meados do século XVI. O «ilustre» professor faz uma interpretação abusiva e enviesada quando diz que em «Os Lusíadas» não se trata de «um herói colectivo», estando a esquecer.se propositadamente do próprio título que Camões deu à sua epopeia - «Os Lusíadas», isto é, »Os Portugueses», «O Povo Português». Para rebater esta tese estranha, basta fazer uma análise séria e rápida das oitavas que constituem a Proposição. Como se sabe, a finalidade da Proposição, em qualquer epopeia, é a enunciação do assunto que o poeta se propõe tratar. Assim é, também em «Os Lusíadas». O poeta propõe-se a tornar conhecido em todo o mundo o valor do povo português ( «O peito ilustre lusitano»). E para isso estruturou a sua proposição em duas partes: nas duas primeiras estrofes, enuncia os heróis que vai cantar; na segunda parte, constituída pela terceira estância, estabelece um confronto entre os portugueses e os grandes heróis da Antiguidade, afirmando a superioridade dos primeiros em relação aos segundos. Outro facto incontestável é que o herói desta epopeia é colectivo. O próprio título do poema é inequívoco: «Os Lusíadas» são, afinal, os Portugueses, todos, não apenas os do passado, mas até os do presente e os do futuro.O facto de o seu herói ser colectivo e a sua acção se estender ao longo do tempo, permite-lhe desdobrá-lo em sub-grupos. O plural que ele utiliza para designar cada um deles, confirma o carácter colectivo do herói: «barões assinalados», «Reis», «aqueles». Resumindo, Camões canta no seu poema «os homens ilustres» que fundaram o império português no Oriente; os Reis, que expandiram a fé cristã e o império português e «todos os portugueses», dignos de admiração dos seus feitos. Finalmente: «Eu canto o peito ilustre lusitano/ A quem Neptuno e Marte obedeceram» - é, ao fim e ao cabo, a submissão do Deus do mar e do Deus da guerra aos portugueses, forma concisa e justa de exaltar o valor do herói colectivo. Outras interpretações do poema, mesmo por «especialistas encartados» serão abusivas, obsoletas, prenhes de análises sérias e objectivas, só passíveis de deficientes pruridos ideológicos que já estão fora do tempo.
«Os Lusíadas», de Luís de Camões voltou novamente à baila pelas piores razões.Se no auge da revolução de Abril foi miseravelmente apodado de poema fascista pelos pseudo-revolucionários de pacotilha, vêm agora os chamados «especialistas» (t'arrenego Satanás!) dizer que «Os Lusíadas» não têm a ver nada com a verdade e é pouco patriótico». (Miguel Tamen, professor de Teoria da Literatura - «Diário I, de 10 de Junho, 2009). Hélio Alves, professor da Universidade de Évora, no mesmo jornal, vai mais longe, afirmando, sem rebuço, que o poema despreza as massas populares», baseando-se, com estupefacção minha, na passagem em que Camões canta : «No mais, Musa, no mais que a Lira tenho/ Destemperada e a voz enrouquecida/ E não do canto, mas de ver que venho/ Cantar a gente surda e endurecida» (Canto X, 145), e ainda quando se refere aos navegadores portugueses: «Os rudes marinheiros(...) julgando as coisas só pela aparência» (CantoV, 17). Na pequena entrevista ao mesmo jornal, Hélio Alves continuando na sua insólita e estranha argumentação acrescenta que «o poema de Camões está concebido como uma lição de política e é, de facto sobre Portugal como entidade politicamente definida. Isto não significa que seja sobre os portugueses, nem sobre um «herói colectivo». Trata-se de poema aristocrático e erudito». E continua com esta «boutade»: «Os Lusíadas» não celebram uma colectividade, mas uma pluraidade / de reis, governadores e mártires)». Perante estas enormidades de «especialistas», temos de convir que há em todas estas afirmações um pensamento ideológico ultrapassado, obsoleto e longe da realidade subjacente ao poema de Camões. Ao falar-se aqui e agora de «massas populares», está-se a ver o poema aos olhos da nossa época e não quando foi escrito, em meados do século XVI. O «ilustre» professor faz uma interpretação abusiva e enviesada quando diz que em «Os Lusíadas» não se trata de «um herói colectivo», estando a esquecer.se propositadamente do próprio título que Camões deu à sua epopeia - «Os Lusíadas», isto é, »Os Portugueses», «O Povo Português». Para rebater esta tese estranha, basta fazer uma análise séria e rápida das oitavas que constituem a Proposição. Como se sabe, a finalidade da Proposição, em qualquer epopeia, é a enunciação do assunto que o poeta se propõe tratar. Assim é, também em «Os Lusíadas». O poeta propõe-se a tornar conhecido em todo o mundo o valor do povo português ( «O peito ilustre lusitano»). E para isso estruturou a sua proposição em duas partes: nas duas primeiras estrofes, enuncia os heróis que vai cantar; na segunda parte, constituída pela terceira estância, estabelece um confronto entre os portugueses e os grandes heróis da Antiguidade, afirmando a superioridade dos primeiros em relação aos segundos. Outro facto incontestável é que o herói desta epopeia é colectivo. O próprio título do poema é inequívoco: «Os Lusíadas» são, afinal, os Portugueses, todos, não apenas os do passado, mas até os do presente e os do futuro.O facto de o seu herói ser colectivo e a sua acção se estender ao longo do tempo, permite-lhe desdobrá-lo em sub-grupos. O plural que ele utiliza para designar cada um deles, confirma o carácter colectivo do herói: «barões assinalados», «Reis», «aqueles». Resumindo, Camões canta no seu poema «os homens ilustres» que fundaram o império português no Oriente; os Reis, que expandiram a fé cristã e o império português e «todos os portugueses», dignos de admiração dos seus feitos. Finalmente: «Eu canto o peito ilustre lusitano/ A quem Neptuno e Marte obedeceram» - é, ao fim e ao cabo, a submissão do Deus do mar e do Deus da guerra aos portugueses, forma concisa e justa de exaltar o valor do herói colectivo. Outras interpretações do poema, mesmo por «especialistas encartados» serão abusivas, obsoletas, prenhes de análises sérias e objectivas, só passíveis de deficientes pruridos ideológicos que já estão fora do tempo.