17/03/2009

“ESTE CLUBE É UMA VERDADEIRA ARMA DE CRIAÇÃO"

foto no clube : Rui Santos

Foi esta a forma como, em dada altura, qualifiquei este “Clube dos Pensadores”.

E na verdade, num país onde mais de um quinto da população vive abaixo do limiar da pobreza e onde já se situam muitas pessoas com emprego;

Onde existem mais de 700.000.00 desempregados reais, de que apenas cerca de 40% recebe subsídio de desemprego;

Que não tem Agricultura, não tem praticamente Indústria e que tem um Terciário que é quase de todo de baixa qualificação e não exportável;

Que tem a menor percentagem de licenciados da UE mas tem uma das altas percentagens de desemprego dos jovens licenciados e em que o desemprego juvenil já ultrapassou os 15%;

Em que a taxa de endividamento das famílias atingiu 128% do PIB e em que os milhões que sobram para injectar na Banca faltam afinal para conceder crédito aos cidadãos comuns e as pequenas e médias empresas cada vez mais asfixiadas.

Em que todos os Serviços de Informação e todas as Polícias se encontram sob a tutela directa do Primeiro Ministro; em que os “oficiais” Serviços de Informação, e os serviços mais ou menos secretos das diversas polícias, como é o caso do Departamento de Apoio Tecnologia e Prevenção da Criminalidade da PJ, estão em autêntica roda livre; em que de uma larga parte da Comunicação Social estão a ser varridos o jornalismo de investigação e os jornalistas de investigação e onde quase 90% das chamada “informação” se faz com as chamadas “fontes institucionais” (ou seja, as agências de comunicação e os gabinetes ministeriais); em que os tiques do controle autoritário e moralista são cada vez mais notórios – do despacho do Ministério Público com a proibição do painel do computador do Magalhães no corso do Carnaval de Torres Vedras à apreensão pela PSP do livro – cuja capa afinal é a reprodução de uma obra de pintura clássica na Feira do Livro de Braga, e agora ao chip na matrícula de cada um dos veículos dos cidadãos portugueses;

Num país onde as pessoas se sentem cada vez mais tristes, mais desamparadas, mais desmotivadas, mais controladas, mais perseguidas até mesmo por simples delito de opinião;

Num pais onde, por toda a parte e a todos os níveis, se procura impôr o terror, ou seja, a lógica do medo – o medo de perder o emprego, o medo de perder a casa, o medo de não conseguir criar os filhos, o medo do estrangeiro, o medo do diferente, e do divergente;

Num país assim manietado e amordaçado, os homens que, como tu, Joaquim Jorge, defendem e praticam os ideais, que defendem que, ao invés do que proclama a ideologia dominante, nem tudo nem todos têm um preço, que sustentam que “mais vale um dia em liberdade que toda a vida sujeitos”, os homens que sabem e praticam que um Povo sem cultura é um Povo derrotado e um Povo sem memória é um Povo sem futuro, representam afinal o exemplo a seguir !..

Há aqueles que, como dizia Padre António Vieira, se preocupam com a sua reputação e não com a sua consciência.

Outros há que pensam sempre e primeiro nos outros, muito mais do que em si próprios, que não abdicam do seu direito à utopia e que fazem avançar o mundo.

Uns e outros podem ser como as aves, mas os primeiros são como as galinhas; os segundos como as águias. É que as águias podem voar tão baixo como as galinhas, mas estas jamais conseguirão voar tão alto como aquelas !

Obrigado, Joaquim Jorge, por nos ajudares a apreendermos a voar bem alto como as águias e obrigado também por nos concederes o privilégio da tua amizade !

António Garcia Pereira