08/02/2009

A Crise , Manuel Alegre e a Refundação da Esquerda


Mário Russo

Manuel Alegre é uma referência na esquerda portuguesa com relevantes serviços em prol da liberdade. É, por isso, a voz da liberdade em Portugal e uma consciência crítica quanto ao rumo que a actual política se vem fazendo no nosso país. Protagonizou uma candidatura pessoal à presidência da república contra o seu partido de sempre, o PS, e o seu mais proeminente fundador, Mário Soares, tendo-o vencido.
Depois disso, Alegre tem-se distanciado do neoliberalismo conduzido por Sócrates à frente de um PS refém das suas ideias e com demasiados “yes-men”. Um PS sem classe, sem ideias, sem cultura.
Sobre a crise do momento, diz ser a "falência ideológica do modelo neoliberal" e que “há no país uma tradição de abdicação cívica, para não falar de cobardia". E tem razão.
Invoca a necessidade de “reinventar soluções de esquerda, à escala nacional e europeia, para combater a maior crise do pós-guerra. E que à esquerda, não há inimigos políticos, mas adversários, que devem combater ideias”.
Que há falência do modelo neoliberal não restam dúvidas, mas isso não cauciona as soluções “ditas de esquerda”, que afundaram países e impérios. Aniquilaram o ambiente e “derreteram” milhões de pessoas na Rússia, China e Vietname, só para falar nestes. Agora emergem os populistas de esquerda como Chavez, Evo Morales e outros sósias pela América Latina. São a solução? Parece que não.
O momento exige pragmatismo e mentes abertas e descomprometidas com tabus ou complexos. Não se pode descartar ninguém numa altura em que o mundo caminha inexoravelmente para o fundo do poço que as actuais políticas de direita, de esquerda, populistas, neoliberais nos levam.
Falta coragem para encarar de frente o touro. Não há soluções de esquerda ou de direita, mas soluções sérias, fundadas nos valores que os nossos antepassados nos transmitiram e que não foram levadas a sério. Com o célebre Maio de 68, que à altura achávamos “do baril”, começou um regabofe mundial em que a moda era desobedecer tudo, todos e a tudo. O célebre “é proibido proibir”, entre outras “eloquentes” bravatas, estendeu-se a todo o mundo e sociedades. A seriedade, o respeito, a disciplina, o trabalho, a ética, a moral, foram denegridas. Quem defendesse esses valores era apodado de fascista e ridicularizado, antiquado, etc.
Deu na safadeza que deu, com roubalheira atrás de roubalheira. Era a socialização dos lucros das companhias públicas ou privadas, pelos espertalhões que atingiram o pódio e em seu benefício.
A actual crise só se resolve com a refundação daqueles valores para que a confiança volte ao povo, sempre massacrado, mas a verdadeira raiz da solução. Enquanto continuarem as “raposas a guardar o galinheiro”, como continua a acontecer, não se restabelece a confiança e seriedade no sistema económico e assim o fundo é cada vez mais uma realidade. Não é preciso fazer milagres, mas fazer o caminho de volta ao passado dos valores que enobrecem o ser humano. É desses Homens que precisamos. Julgo que há um na América, de seu nome Barak Obama, que lembra Nelson Mandela e a sua enorme estatura moral e política. É desses, que não olham para o “cartão” político das pessoas.