Trinta anos de serviço e quinhentos euros de remuneração mensal. É esta a realidade que faz com que em Portugal se trabalhe, literalmente, para a pobreza. Pior se um dos cônjuges se encontra desempregado ou se se viver sozinho. Dois milhões de portugueses vivem nestas circunstâncias e outros dois milhões no limiar da pobreza. Se juntarmos a estes, alguns dos restantes milhões que, depois de pagarem a casa, a escola dos filhos e o cabaz de comida, ficam a contar tostões até ao fim do mês, temos o retrato sócio-económico de Portugal neste dealbar do século XXI.
Razão mais que basta para perguntar o que mudou neste país. O que dele beneficiaram os portugueses desde o 25 de Abril e o que se fez com os benefícios adquiridos com a adesão à Comunidade Europeia? É que, embora sejam notórias as melhorias na rede viária, que, aliás, todos nós pagamos duplamente, através dos impostos e das portagens, e no imobiliário, onde qualquer obra pública, por mais ridícula que seja, acaba sempre por custar o dobro ou o triplo do orçamentado, essas melhorias demonstram, mais do que desenvolvimento, a voragem canibalista dos grandes interesses económico especulativos que se apoderaram do Estado e de quem com ele (o Estado) se governa, desgovernando-nos.
E hoje estamos nesta débil situação em que o governo não tem dinheiro para combater a pobreza, ou sequer para impedir que os trabalhadores percam poder de compra. Na função pública, barómetro para a fixação salarial de todos os demais trabalhadores, há nove anos que não se verificam aumentos reais nas remunerações. Pior do que isso, verifica-se que hoje, ganha-se comparativamente menos do que há nove anos. Do mesmo modo, as restrições nas reformas, em nome da convergência entre sector público e privado, a privatização da saúde ou a desorçamentação da escola pública, deixando-a, deliberadamente, a perder qualidade e alunos para as escolas privadas, são sintomas mais do que suficientes para perceber que este Estado já não governa em benefício de todos, mas em função de alguns, sobretudo grandes, interesses económicos. E se dúvidas existem quanto a este facto esperem pela prova dos nove: Este governo que não tem dinheiro para combater a pobreza, vai tê-lo, quase de certeza, para salvar as instituições financeiras que entrarem em colapso.
Em pano de fundo esboroa-se, porém, o mito que as entidades privadas gerem melhor do que as públicas ou de que os sacrifícios pedidos pelos governos são necessários. E com isso esfarelam-se todas as falácias que nos impingiram nos últimos anos, desde a "produtividade" aos "objectivos", sem esquecer o "deficit". Pensem nisto no trabalho e em casa. Pensem no que dá ter inteligência e falta dela para a usar com inteligência.
Paulo Ralha
Razão mais que basta para perguntar o que mudou neste país. O que dele beneficiaram os portugueses desde o 25 de Abril e o que se fez com os benefícios adquiridos com a adesão à Comunidade Europeia? É que, embora sejam notórias as melhorias na rede viária, que, aliás, todos nós pagamos duplamente, através dos impostos e das portagens, e no imobiliário, onde qualquer obra pública, por mais ridícula que seja, acaba sempre por custar o dobro ou o triplo do orçamentado, essas melhorias demonstram, mais do que desenvolvimento, a voragem canibalista dos grandes interesses económico especulativos que se apoderaram do Estado e de quem com ele (o Estado) se governa, desgovernando-nos.
E hoje estamos nesta débil situação em que o governo não tem dinheiro para combater a pobreza, ou sequer para impedir que os trabalhadores percam poder de compra. Na função pública, barómetro para a fixação salarial de todos os demais trabalhadores, há nove anos que não se verificam aumentos reais nas remunerações. Pior do que isso, verifica-se que hoje, ganha-se comparativamente menos do que há nove anos. Do mesmo modo, as restrições nas reformas, em nome da convergência entre sector público e privado, a privatização da saúde ou a desorçamentação da escola pública, deixando-a, deliberadamente, a perder qualidade e alunos para as escolas privadas, são sintomas mais do que suficientes para perceber que este Estado já não governa em benefício de todos, mas em função de alguns, sobretudo grandes, interesses económicos. E se dúvidas existem quanto a este facto esperem pela prova dos nove: Este governo que não tem dinheiro para combater a pobreza, vai tê-lo, quase de certeza, para salvar as instituições financeiras que entrarem em colapso.
Em pano de fundo esboroa-se, porém, o mito que as entidades privadas gerem melhor do que as públicas ou de que os sacrifícios pedidos pelos governos são necessários. E com isso esfarelam-se todas as falácias que nos impingiram nos últimos anos, desde a "produtividade" aos "objectivos", sem esquecer o "deficit". Pensem nisto no trabalho e em casa. Pensem no que dá ter inteligência e falta dela para a usar com inteligência.
Paulo Ralha