07/12/2008

Crise : como sair dela ?


Mário Russo



Os diagnósticos estão feitos. A ganância de mais de 25 anos de um liberalismo económico depredador e assassino, perpetrado por assaltantes de bancos e de grandes empresas, legalmente eleitos para os respectivos conselhos de administração, com base instalada nos EUA, está à vista de todos. A ruína do edifício financeiro internacional espalhou o pânico e minou iniludivelmente a economia, bem como a confiança que a velha geração de grandes banqueiros granjearam em séculos de trabalho.

Resgatar essa confiança vai custar anos e é preciso que os responsáveis pela maior roubalheira da história da humanidade sejam julgados e presos, em todos os países, designadamente nos EUA. Não podem ser contemplados por injecções gigantescas de dinheiro do erário público, tal como está incrivelmente a acontecer em alguns casos.

Como podem passar incólumes, sem sanções pesadas os reguladores, empresas de ratting, bancos centrais, Wall Streets, revisores oficiais de contas? É um mau presságio nada lhes acontecer.

O governo português já fez a sua parte ao estender a mão ao BPP, comportamento que não tem para com empresas do sector produtivo. Alguém dizia que “eles” defendem-se uns aos outros. Esta injecção “tinha” de ser feita, porque senhores muito importantes da nossa praça (políticos e empresários) poderiam ter algum prejuízo com os seus milhões ali aplicados. Uma vergonha em meio a esta crise de valores, tão grande quanto o rombo financeiro.

Os discursos continuam deprimentes e as notícias alarmistas e exaustivas agravam ainda mais o estado emocional das pessoas. Como sabem, se contarem histórias tristes, seja a uma criança ou a um adulto, infunde um estado de tristeza e apatia, ao passo que se forem alegres e de sucesso, induz contentamento e esperança. Energia positiva para se trabalhar, criar, inovar. Nada de novo que se não saiba.

No entanto, há muito tempo que o quarto poder, como dizia ALvin Tofller, explora até à exaustão as notícias más, levando facilmente a generalizações e consequentes depressões. Diz-se que são critérios jornalísticos. Talvez sejam, mas que critérios? São os mais certos para um mundo globalizado, em que milhões de pessoas não têm capacidade de interpretar ou desmontar/filtrar uma notícia? Duvido muito que sejam. Não se cria nada com exemplos negativos e deprimentes.

Insistir em tais práticas que ajudaram a criar o “vazio” em que vivemos, é um trágico erro, ou uma vitória de Pirro para essa imprensa que governa os nossos sentimentos. Imprensa que tem sido parte do problema e não solução. Imprensa que renunciou a ter postura de Estado.

Por isso, temos a obrigação de ter aprendido com tantos erros. Não só os políticos têm de ser chamados a exercer as suas responsabilidades, os empreendedores a inovar, os cientistas a criar, os empresários a investir, o povo simples precisa de acreditar que é possível vencer (yes we can, como nos ensinou Barak Obama). A imprensa desempenha um papel importante na difusão do positivo, do animador e mostrar a saída, e não matar o sonho de que é possível ultrapassar este pesadelo.