O importante não é o poder pelo poder mas sim chegar-se a uma maioria social com políticas sociais.
JOAQUIM JORGE
José Sócrates durante estes quatro anos foi anulando um a um os seus adversários e os incómodos: João Soares ex – candidato a Sintra, é presidente da Assembleia Parlamentar da OSCE; Mário Soares deu-lhe um presente envenenado, candidato a Presidente da República; João Cravinho despachou-o para administrador European Bank for Reconstruction and Development; António Costa para Lisboa, Manuel Maria Carrilho para a UNESCO; Victor Ramalho para o INATEL; etc. Ou mantém-nos ocupados ou longe da sua vista. António José Seguro está em stand-by mas pelo que me parece auto – marginalizou-se.
Sobra Manuel Alegre, foi alguém que teve a ousadia de enfrentar Sócrates nas presidenciais tendo uma votação muito superior ao PS. Todavia Sócrates, já percebeu que Alegre é uma consciência crítica, com quem os portugueses se identificam pelas suas tomadas de posição que pode provocar uma erosão no eleitorado socialista. Não se coíbe de criticar o Governo no que julga necessário. Sócrates sabe que existe a possibilidade de perder votos à esquerda depois do sinal enviado pelo comício com outras forças de esquerda. À direita o risco é menor, a imagem de Ferreira Leite pouco incomoda, é parecida com ele, mas usa saias. A máxima é, se não podes combater o inimigo junta-te a ele.
O busílis da questão é que Manuel Alegre não pode defraudar todo o apoio que foi tendo na sociedade civil com as suas iniciativas depois das presidenciais. Não pode ceder à tentação que lhe passem a mão pelo pêlo. Se pensa concorrer às eleições presidenciais deve apresentar-se como candidato autónomo e de cidadãos. Se o PS a seguir o apoiar, tudo bem, será bem-vindo. É assim que as coisas se devem processar, quem tem que vir ter com Alegre é o PS e não o contrário. Não seria curial e de bom-tom defraudar toda a corrente de gente que está sempre pronta ajudá-lo quando ele precisou e precisa independentemente do resto, com custos e sacrifícios. A seguir a essa intuição fantástica, não se pode submergir todo este capital político, humano e voluntário. A dimensão que se atingiu não se pode esvaziar de sentido.
José Sócrates fomenta esta aproximação porque não tem outra saída, não sendo alheio, a dimensão cultural e obra poética de Alegre. Se não fosse assim não o faria. Sabe que a saída de Helena Roseta do partido e a votação expressiva em Lisboa poderão ser o clique para a formação de um novo partido devido à sua capacidade de ser capaz, de fazer, impulsionadora, mobilizadora e a concomitante sangria de votos. Num ápice o adeus à maioria absoluta e porventura à vitória nas legislativas. Daí , já ter ensaiado a aproximação em Lisboa , dando ordem a António Costa para se aproximar de Helena Roseta e o seu movimento de cidadãos com a distribuição de pelouros.
Sócrates, muito bem, na antecipação e previsão tenta o approach, mas o importante não é o poder pelo poder mas sim chegar-se a uma maioria social com políticas sociais.
Revista Perspectiva distribuída com o jornal PÚBLICO aqui