Mário Russo
O que se tem passado neste Verão em Portugal com a onda de assaltos violentos e descarados, remete para o esquecimento a onda de incêndios que teimou em acompanhar-nos nos verões passados.
Esta violência também serve para se teorizar sobre as suas consequências e raízes, emergindo teorias justificativas com a depressão económica, a penúria e incúria dos governos que não olham para os pobres e miseráveis, etc., ou seja, seriam as necessidades básicas insatisfeitas que pretensamente levarão pessoas a assaltar, o que me parece improvável.
Lançar sobre os pobres e necessitados esse ónus é simplista e, sobretudo injusto e desproporcionado. Os miseráveis até podem roubar, mas não o fazem nas formas violentas que temos presenciado. O que está a acontecer vai para além desse simplismo. São, na verdade, gangues que na “onda” do facilitismo e descaso dos sistemas públicos e de políticas desadequadas, oportunistamente passam a actuar com a maior desfaçatez.
A imprensa portuguesa encontrou nestes episódios um filão que os vem alimentando há alguns meses, com reportagens intensas e fastidiosas, a lembrar uma certa televisão do Brasil. Perdem-se em minúcias, prestando um grande serviço aos aprendizes de bandido, com detalhes dos pontos fracos da segurança de várias instituições, desde os Tribunais sem segurança, horários, locais, etc.
Espantosa é a falta de bom senso e postura de Estado que manifestam os nossos jornalistas e até algumas autoridades e sindicalistas deste sector, dando, como soi dizer-se, o ouro ao bandido. Se não sabiam, passam a saber com os detalhes dos pontos fracos do sistema.
Agora, a propósito do exagerado número de postos de combustíveis assaltados diariamente, salta para a ribalta uma solução milagrosa engendrada pelos nossos políticos e governantes. A segurança privada vai tomar conta do caso. Tal anúncio constitui a mais robusta declaração política da falência do Sistema de Segurança Público e um serviço extraordinário ao monopólio da segurança privada. Cria-se a instabilidade e sensação de insegurança e do medo, para se vender segurança privada.
É caso para perguntar se a nossa imprensa não está a embarcar, de “gaiato”, nos interesses desses grupos privados, ao exagerar a informação e o destaque que dá à criminalidade violenta? De facto, mesmo existindo, como não é novidade, deve ser restrita às páginas do interior dos jornais em meia dúzia de linhas e não em manchetes e mais manchetes de 1ª página, nem abertura de telejornais, tão pouco debates e mais debates com especialistas, como se fosse dissecar a guerra no Iraque. Apresentando-se o medo e a insegurança, vem o discurso xenófobo e terreno fértil para se vender a segurança (Privada, pois claro). Não é novidade. Assim fizeram nos EUA e no Brasil, para a penas falar de 2 países.
Patético é vermos os nossos governantes, como baratas tontas, com propostas de segurança privada como solução para as sua incapacidades, demonstrando o fracasso das políticas encetadas e a darem tiros nos pés. É o resultado da política cega do défice que emerge a olhos vistos.