25/09/2008

Pensar no feminino. Existe?


Mário Russo

Joaquim Jorge abriu o 6º ciclo de debates no Clube dos Pensadores com pensadoras. Fez muito bem em convidar mulheres que se têm destacado na sociedade portuguesa em diversas actividades. Na verdade não sei se há mesmo um pensamento feminino. Sei que há pensamento, seja ele feminino ou masculino, e este debate mostrou bem isso.

Mas, certamente que há uma forma de estar feminina, que vem dos primórdios da civilização, e está alicerçado em valores de defesa da prole. Uma espécie de ética de estar. Por isso as mulheres têm de ser mais fortes que os homens, ao contrário do que se faz crer. De facto, elas são mais resistentes a qualquer infecção que os homens. Suportam a dor, sacrifícios e tormentas, muitas vezes sem verter uma lágrima, para defender a família. Uma mulher não abandona o seu filho (falo em termos gerais, porque não é para aqui chamada a excepção, normais nas regras).

De facto, as mulheres não jogariam a sua dignidade e modo de estar, como fizeram-no os homens que são os responsáveis pelo dilúvio financeiro que está a destroçar o mercado financeiro na América e a economia mundial, remetendo milhões à miséria, por ganância. Não foram mulheres que usaram ciências ocultas para fabricar uma contabilidade de lucros falsos, que levaram à falência impérios como a Enrom e os gigantes bancos americanos.

O debate foi muito agradável e rico em ideias, em que a jornalista Isabel Stilwell, muito agradável, com o seu enorme sorriso e refinado humor britânico perfumou o ambiente com deliciosas explicações do papel da mulher através dos tempos e em particular em Portugal. Reconheceu, ironicamente, que as mulheres não sabem delegar (porque conseguem fazer muitas coisas ao mesmo tempo) e o homem aproveita a “fraqueza”, para descansar… ao fim da jornada de trabalho, quando a mulher, vinda da mesma jornada, inicia outra em casa.

As belas, Magda Rocha, jornalista da TV e Vera Deus, arquitecta, manequim e empresária, demonstraram que o facto de serem belas, não tem necessariamente que fazer parte do estereótipo “burra”, antes pelo contrário. Magda expôs a excepção em que se tornaram alguns países (não desenvolvidos) em que as mulheres ocupam lugares cimeiros na sociedade, mas questionou porque é que em Portugal há poucas mulheres na política e em chefias? No entanto, é contra as quotas, porque está convencida que o mérito das mulheres as levará ao “poder”, como ela conseguiu singrar num mundo de homens.

Vera Deus desmontou a vida de facilidades imputadas a manequins e apresentou diversos exemplos de manequins graduados superiormente e de craveira intelectual que depois desenvolvem outras actividades relevantes. Joaquim Jorge deu a palavra à Directora do CATI de S. Mamede de Infesta, Carolina Costa, que tem realizado um trabalho em prol dos idosos há mais de 26 anos, em que emerge o “pensar/estar” feminino. Também a jurista Maria Manuel mostrou o seu descontentamento com o estatuto da mulher na moderna sociedade do século XXI.

Depois foram os homens a falar. Eduardo Rodrigues da concelhia de Gaia, “constrangido” disse ser a favor das quotas como forma de inverter o peso dos homens na hierarquia e corrigir essa assimetria e injustiça. JJ é contra as quotas, até porque as mulheres têm mais vantagens que os homens – São belas. Também Luis Montenegro, deputado do PSD, foi cristalino ao justificar que as quotas não resolvem a paridade que se deseja na sociedade e o 25 de Abril aí está para o confirmar, com os avanços registados.

José Carvalho pôs a plateia a rir ao reforçar a ideia de que as mulheres estão muito mais bem armadas que os homens, pois vêm artilhadas com um arsenal, enquanto os homens dispõem apenas uma arma, que ainda por cima muitas vezes falha. Por isso, as mulheres não precisam de quotas e conquistarão os seus lugares de forma natural.

O debate foi rico, muitas vezes hilariante, devido ao humor com que os intervenientes se exprimiram, para além de ter sido excepcionalmente participado, numa noite de chuva anunciada e de jogo de futebol na TV. Joaquim Jorge está de parabéns pela organização e pela ideia pensadora de trazer à discussão tão interessante tema.