Mário Russo
Angola acaba de realizar eleições após a traumática experiência de há 16 anos. As expectativas são grandes pelo desejo da normalização da vida democrática de um país que não tem essa vivência, mas que vem dando mostras graduais de encetar por essa via. A campanha eleitoral decorreu com civismo e respeito pelas diferenças, o que é salutar e muito positivo.
A votação de ontem em Luanda teve atrasos e confusão em muitas das mesas de voto. As pessoas ordeiramente esperaram pela sua vez de votar. Logo pela manhã, ainda mal tinham começado as votações e já a Chefe da Delegação da União Europeia fazia declarações bombásticas de “Desastre eleitoral”, logo aproveitado pelo líder da UNITA em dizer que os resultados eleitorais seriam inaceitáveis.
Contrariamente à Chefe da delegação da UE, outros colegas seus observadores não corroboraram com a apreciação. Para estas eleições foram credenciados mais de 700 profissionais da comunicação social de vários países do mundo e havia ONGs americanas e europeias e observadores da CPLP a acompanhar o pleito.
Exceptuando as situações de Luanda, decorreu com mais profissionalismo e competência as votações nas províncias e com elevado sentido cívico. Acabo de ouvir o líder da UNITA vir a terreiro reclamar a impugnação das eleições, o que é um mau presságio e desculpas de mau perdedor (provável).
Atrasos e confusões são resultado da incompetência da CNE e até um certo facilitismo dos funcionários responsáveis por implementar a logística de votação e não são sinónimo de fraude eleitoral. Seria melhor que tudo estivesse em ordem e sem atrasos, mas temos de ter uma dose grande de compreensão, porque é isso que Angola precisa, como criança nestas lides democráticas. A Impugnação das eleições, nestas condições, é um devaneio de mau pagador.
De facto, até ao momento o maior desastre foi as precipitadas declarações da incompetente Chefe da missão da UE. É lamentável que Durão Barroso envie para chefiar uma Missão importante em Angola uma pessoa impreparada e desconhecedora da realidade Africana e Angolana em particular. Derramou gasolina num terreno fértil em incêndio, quando deveria ser um elemento pacificador e com sentido de Estado.
Desejo que a UNITA se porte melhor que em 1992 e respeite o povo angolano martirizado e estropiado de guerra e milhões de minas pelos campos, caso contrário a responsabilidade pelo rastilho da guerra foi ateado pela União Europeia, com as desastradas declarações de uma incompetente que jamais deveria ter saído da Europa.