29/09/2008

Colapso do Deus Mercado


Mário Russo



Podemos dizer que o mundo está suspenso por um acordo na América entre democratas e republicanos, à proposta de Bush para salvar a economia americana. Quando anunciado o plano, as bolsas responderam de imediato, mas o recuo por parte dos críticos do plano, afundou as bolsas de novo. A histeria está instalada no mercado.

Os críticos de direita dizem que o Estado não deve intervir no mercado, enquanto os democratas de esquerda dizem que o plano vem consumar a socialização do prejuízo. Provavelmente ambos tenham a sua razão.

O que fazer? Deixar de intervir para satisfazer os ultra liberais e os democratas de esquerda? Se assim acontecer será por tacticismo eleitoral e uma vitória de Pirro. A falência de empresas que se portaram mal é uma saída, mas quando é o sistema financeiro com ramificações globais, vai arrastar outros sistemas financeiros de outros países para o buraco. Com essa queda, as empresas fecham por falta de suporte financeiro, a economia entra em estagnação, vem o desemprego e a fome em massa e com eles a morte de milhares de seres humanos, vítimas da ganância e da roubalheira organizada e oficializada.

Por isso deve decretar-se a morte ao “Deus Mercado” e exigir que o Estado intervenha cirurgicamente no sistema de modo a não entrar em ruptura definitiva. As perguntas são as seguintes: (i) como deve intervir e (ii) que lições devem ser aprendidas.

O Estado não deve injectar dinheiro apenas no sistema, com aqueles canalhas gestores que causaram o distúrbio, senão é jogar dinheiro dos contribuintes ao lixo e premiar os ladrões. Deve adquirir o controlo dessas instituições, para mais tarde voltar a privatizá-las, debelada a crise.

Urge corrigir a rota da desregulação irresponsável que há uma década mentes académicas brilhantes inventaram para gáudio dos amantes das ciências ocultas se locupletaram com o dinheiro do povo, com essa gestão digna de Al Capone.

Prender os gestores responsáveis é o mínimo que se exige do sistema judicial, como forma de expurgar a fraude e o cancro instalados. Alterar as regras de remuneração de gestores, expurgando as percentagens sobre os resultados financeiros. Pagar bem, sim senhor, mas um valor fixo e avaliar o desempenho em cada ano. Se não cumprirem os objectivos dos accionistas, rua com eles. Não pode continuar a obscenidade.

Acabar de uma vez com os produtos “fantasmas” ditos complexos e derivativos. Adoptar regras claras no mercado e eliminar a promiscuidade entre jornalistas que especulam e favorecem as empresas com notícias falsas, prendendo-os em caso de culpa.

Por fim, auditem-se as empresas de rating, os auditores (os famosos que diziam que a Enrom estava em alta), os reguladores e os administradores dos bancos centrais e do FED. Onde estavam neste “baile” de máscaras? Abram-se processos-crime contra os gestores que viciaram as contas das entidades em falência. Há um lugar à espera de todos eles: a cadeia. A culpa não pode morrer solteira.

Se não aprendermos com os tremendos erros, é muito mau, é a maneira burra de estar na vida, que tem um preço muito alto.