Procurei em jornais e revistas de fim-de-semana alguma interpretação do discurso à nação que o Presidente da Republica fez em pleno início dos portugueses irem a banhos, ou ficar em casa, em tempos de crise.
Encontrei interpretações que não me convenceram. De faço, Cavaco Silva é parco em palavras e muito objectivo. Por isso, não acredito que ele quisesse apenas dizer aos portugueses que era contra o estatuto político-administrativo dos Açores que a maioria PS lhe tinha preparado. Este era apenas o mote.
Ele repetiu mais de uma vez, as mesmas palavras que a Constituição portuguesa consagra como motivos para dissolução da Assembleia da Republica. Aqui, em minha opinião está a mensagem subliminar que o PR quis deixar.
Acontece que os deputados do PS, por terem maioria absoluta, estão convencidos que podem fazer tudo e resolveram retirar poderes ao PR, coisa que jamais se lembraram quando o inquilino era Mário Soares ou Jorge Sampaio. É o que eu denomino de chico-espertismo em política, para não dizer outra coisa.
Cavaco não gostou e preparou bem o timing para avisar, até porque tem um antecedente. Com efeito, Jorge Sampaio logo que viu a liderança do PS em José Sócrates, cheio de vigor e com credibilidade, ao contrário de Ferro Rodrigues, à época demasiado fragilizado por lhe ter sido colado uma etiqueta do caso Casa Pia, desfez-se de Santana Lopes, dissolvendo a AR.
Cavaco Silva está a ver a governação PS a não dar as respostas que o povo gostaria, mesmo considerando aspectos exteriores: Ao mesmo tempo está aliviado com a nova liderança, Manuela Ferreira Leite, com áurea de credibilidade, tal como Sócrates à época. Se somarmos as diatribes que os deputados do PS estão a cometer, está constituído o ingrediente para a “vingança do chinês”.
Por isso, Cavaco predispôs-se a maçar os portugueses com aquele discurso “extra-terrestre” deslocado e desfocado dos interesses da maioria dos seus concidadãos, reforçando cada palavra inscrita na Constituição para derrubar a AR.
Como o povo está farto de ser “esfolado” por este governo, mesmo que seja em nome de um futuro melhor, verá com bons olhos que “ponha na rua Sócrates”. Não haverá surpresas nem levantamento de ondas de indignação.
É, pois, para mim, o recado que Cavaco quis deixar aos portugueses e, sobretudo ao PS - portem-se bem e evitam uma dissolução antecipada. Será?
permanente no blogue, engenheiro e professor universitário