14/08/2008

OPINIÃO


Caro Joaquim Jorge,o meu nome é Rui Rodrigues e escrevo-lhe para o felicitar pelo blog. É preciso começar por algum lado, e o diálogo é sempre o primeiro passo. O seu blog é um bom espaço de partilha. Parabéns!


Escrevi este texto depois de chegar a casa, de um dia de trabalho – que me ajuda a pagar os estudos – e ter lido os seu post sobre o Tratado de Lisboa, de Vladimir Bukovsky. Que grande texto! Até dá arrepios... Um retrato da União Europeia como poucos têm coragem de admitir. A democracia não existe, se bem que na televisão apregoam que sim. A classe política é mentirosa. E a oposição que aparece, mais parece que foi ali posta para nos dar ilusão de que ainda sabemos bater o pé. Quando batem, mais parece que é com pezinhos de lã. A verdadeira oposição, que é o cidadão comum, bate com a pantufa, quando está à frente da televisão a ver as notícias de uma União Europeia democrática. Se vivêssemos mesmo numa sociedade democrática, porque é que é a maioria está a viver mal? Nesta sociedade o povo não é quem mais ordena; é quem mais é ordenado.Mas se lhe tiraram a capacidade de pensar, que seria a sua capacidade de reação, como é que pode reagir? Todo o ambiente social, económico e cultural leva a que seja o próprio povo a desejar ser controlado. Vive sob constante medo. O modo como lidamos com as pessoas diferentes de nós, que só nos leva a temer as diferenças, e não a ver que estas possibilitam a evolução. O pesado fardo dos empréstimos com juros, que adquirimos a comprar coisas que só servem para nos distinguirmos uns dos outros, diferenciarmo-nos ainda mais, hierarquizarmo-nos, adquirindo um status que vai do mais pobre (lá no fundo), ao mais rico (lá no cimo). Uma maioria pobre, que quer viver como rica, mas que na verdade, muitas vezes lhe é negado o BÁSICO! E ainda assim tem medo de fazer frente, antes que lhe levem o pouco que tem. Uma educação que deixa os jovens (serão o futuro do amanhã?) inaptos para o pensamento. Presos a novas tecnologias alienantes, a ídolos pop e trajes bonitos com que se exibem aos seus pares. Uma sociedade em que se estigmatizam certas drogas, e depois vendem outras a toda a gente. Toda a gente é viciada! Álcool, tabaco, televisão, roupa, carros, adereços, comida, etc, etc, ETC! Toda a gente se desvia duma consciência cívica através de algo. Algo cultivado ao extremo! Uma frase que se aplica na área da saúde, especificamente quando se trata de venenos – tudo é veneno, nada é veneno! Também assim é na vida! O povo sofre do excesso de superficialidade e entretenimento. É só fachada, não há consciência lá dentro. A maioria tornou-se completamente fútil e só vai perceber que são completamente subjugados quando já for tarde demais. Aí, a reação é obvia: mortes. Desde guerras civis a batalhas campais, o mais provável é que arda muita coisa...Neste momento, as vozes que ainda sabem dizer não, ainda não são levadas a sério pelo maioria. O sistema económico-socio-cultural vigente na Europa, mas também por todo o mundo ocidental, não tem solução pacífica, se continuar no mesmo caminho.Declarações como a do escritor, dissidente soviético, Vladimir Bukovsky, deviam ser espalhadas ao vento! Ou ser transmitidas na televisão, rádios e jornais (já que só aí as pessoas prestam alguma atenção) para depois sonharem com elas de noite. Sussurrar-lhes aos ouvidos palavras como Liberdade, Tolerância, Justiça, Paz... E quando acordarem de manhã, pode ser que comecem a pensar nelas.A diferença é o motor da evolução!Querem que optemos todos por uma consciência igual. Sermos todos “europeus”. Não querem que eu tenha uma consciência do meu país, mas eu também não quero uma consciência “europeia”! Prefiro não ter pátria. “As rosas amo, meu amor, à pátria.”, como dizia Ricardo Reis.Falando daquilo que me toca (ainda mais) directamente, o ensino superior encontra-se agora sob um Tratado de Bolonha. Um ensino europeu homogeneizado, Para que facilite a troca de estudantes e, consequentemente, de profissionais, que não são mais que “ignorantes especializados”, como dizia o meu velho professor de filosofia.Um ensino igual na Europa, aliado a uma cultura igual, sob um sistema económico europeu (ou mundial...), tornam-nos todos iguais. Então para quê trocar estudantes e profissionais, se serão todos iguais? A troca não tem na sua essência a partilha de algo diferente? Haverão cérebros iguais, e ainda por cima, todos mirrados.Haverá forma de mudar isto, ou só nos resta a esperança de renascer das cinzas?Mudar o mundo começa por mudarmo-nos a nós próprios. Agora é preciso é que todos o saibam.

Rui Rodrigues