17/08/2008

Modelos educacionais: uma mão cheia de erros por corrigir


Mário Russo


A propósito de educação e de modelos educacionais, é sabido a tentação dos “experts” nesta matéria em fazer experiências motivadas por mais variadas razões. Muitas vezes é com o objectivo de combater o insucesso escolar, outras por questões ideológicas, para se distanciar de modelos que consideram antiquados e desajustados à modernidade que pretendem realçar.

O que temos visto são experiências em que as nossas crianças são as cobaias de tais experts, que não duvidam nada da bondade das suas propostas, algumas delas para provar as suas teorias (obscuras) que defenderam em teses de mestrado ou de doutoramento.

Não vou entrar na questão da aprendizagem dos conteúdos, porque os resultados estão à vista, mas num outro aspecto também importante, que é o da escrita, ou melhor, do aprendizado da escrita.Com efeito, essa tal teoria moderna que invadiu as nossas escolas primárias, não descansou enquanto não impôs a abolição dos cadernos de linhas paralelas, porque era “fascista” e salazarento.

O resultado é que várias gerações de pessoas em Portugal expressam-se com caracteres escritos dignos de uma criança da 1ª classe do “antes do 25 de Abril”, verdadeiros hieróglifos indecifráveis que atormentam quem tenha a obrigação de os ler. O argumento, ideológico, foi o da liberdade da aprendizagem. Obrigar os alunos a escrever caracteres em linhas paralelas, segundo esses cientistas, era violar o princípio sagrado da liberdade e do desenvolvimento harmonioso do ser humano.

Não ocorreu a essas mentes brilhantes que a escrita em termos físicos, não em termos literários, como é óbvio, não passa do desenho de caracteres com uma certa sequência. Todos os artistas sabem que desenhar requer treino e destreza, que foi o que gerações de portugueses não tiveram, por uma decisão esdrúxula de sábios que tiveram em Anas Benaventes e Danieis Sampaios os seus baluartes defensores, da dita liberdade da aprendizagem.

Sempre que tenho de corrigir testes dos meus alunos passo mais tempo a tentar decifrar os hieróglifos da maior parte deles, do que o conteúdo escrito e exigido na prova, e estou a falar de alunos de engenharia. Uma vergonha a maior parte daquelas caligrafias. Pessoalmente não cometi o crime de roubar a destreza na escrita aos meus filhos. Ao arrepio de tais mentes brilhantes, eles aprenderam e treinaram em cadernos com linhas paralelas. Hoje são diplomados e têm uma caligrafia exemplar. Tal como eu, que aprendi em tais cadernos, bem como meus irmãos e tantos colegas e amigos, não adquirimos nenhum trauma por isso.

De facto, a imposição de teorias em educação só por se pretender ser inovador ou com o afã de mudar, como se mudar fosse sempre melhor, não passa de uma manifestação de arrogância com consequências graves, como foi o caso. Gostaria de ver os arautos de tais experiências com a hombridade de pedir desculpas aos portugueses pelos graves erros que cometeram nesta e em outras matérias na área da educação em Portugal.
Lamento que ainda não se tenha feito uma marcha a trás neste aspecto particular da aprendizagem da escrita.