Mário Russo
Todos gostamos de ver portugueses com sucesso, seja em que actividade for. No desporto, naturalmente há um mediatismo muito grande e os campeonatos do mundo e os Jogos Olímpicos são os que mais saltam à vista de todos.
Portugal, país tradicionalmente visto como atrasado e pobre, tem na sua população uma grande ânsia de sucesso para que a sua auto-estima suba. Por isso depositamos grandes esperanças na representação olímpica nacional que rumou a Beijing.
Depois dos primeiros resultados, vieram as frustrações com a falta de medalhas daqueles atletas que a nossa imprensa garantia êxito. Quase que nem precisavam de ir à China porque era “trigo limpo, farinha Amparo”.
Alguns atletas desculpavam-se das mais variadas maneiras e o Comandante anunciou a demissão do cargo de Presidente do COP dados os maus resultados. Cá no cantinho da Europa nos jornais, nos “fóruns” da rádio e televisão, os portugueses massacravam os atletas pelos maus resultados. Diziam cobras e lagartos da sua dignidade, etc.
E eu reflecti sobre tudo isto. Também gostava de ver os nossos atletas derreados de medalhas ao peito, enchendo-me de orgulho. Mas afinal o que fizeram os nossos atletas foi mesmo mau? Acho que não.
Os piores da nossa representação foram o Comandante Vicente de Moura que abandonou o barco, como um rato, lançando o anátema do fracasso sobre a delegação, quase toda ela ainda envolvida em competição. Uma prestação péssima, intolerável e sem ética. Bem esteve o secretário de Estado do Desporto que colocou no devido lugar o problema e mostrou o bom senso que Vicente de Moura não teve.
Péssimo foi o Chefe da missão que mostrou-se indigno de um espírito olímpico sadio, ao “convidar” o primeiro atleta português com mínimos olímpicos para o lançamento do martelo a abandonar a delegação, porque teve um desabafo considerado infeliz, quando foi apenas uma graçola perante as câmaras de TV e devia não passar mesmo disso. Esse Chefe de missão mostrou que é um intolerante e indigno representante de Portugal numa olimpíada.
Os atletas não ganharam medalhas, mas bateram sucessivos recordes pessoais e de Portugal, perante os melhores do mundo. São mais de 200 países, mas só 3 atletas ganham medalhas. Os portugueses revelaram que são muito exigentes (demais) com os outros, mas não são consigo próprios, caso contrário, não estaríamos na cauda da produtividade europeia.
Revelaram que são intolerantes e pouco agradecidos por aqueles que na verdade nos honraram com o seu melhor esforço. Deram tudo e a mais não eram obrigados. Foram melhores do que nós, que cá estamos, com pouca produtividade, com pouca benevolência, com pouco espírito altruísta, com pouco espírito de solidariedade, com fraco empenho benemérito.
Mais de metade daqueles rapazes e raparigas trabalham 8 horas por dia e depois vão treinar, por sua conta e risco. Todos eles, amadores e profissionais, deram o máximo deles próprios, pese embora desculpas que brotavam à toa diante de um microfone e algo tinha de ser explicado aos espectadores ante perguntas “assassinas” do porquê do fracasso.
Que fracasso? Aquele que a imprensa nos levou ao engano ao iludir-nos com medalhas e mais medalhas, por incompetência informativa, pois estavam em competição os melhores dos melhores de todo o mundo e eles não levaram isso em linha de conta.
Aqueles rapazes e raparigas merecem o nosso reconhecimento, porque todos eles estão acima do que estão a generalidade dos portugueses no confronto com os seus pares mais avançados do mundo. Parabéns a todos eles e obrigado. A Vanessa Fernandes e ao Nelson Évora um reconhecimento e um obrigado do tamanho do mundo, porque são verdadeiramente excepcionais e alimentaram o nosso ego. Eles são a filigrana que o nosso povo não merece.