10/07/2008

Será que Portugal é mesmo viável?

Foto Rui Santos

O último debate deste ciclo do Clube dos Pensadores tentou trazer a "lume" o que será um bom projecto político para Portugal. Mas, no final, a grande dúvida que ressaltou é se o nosso país, com o actual sistema político, se pode tornar viável.
A plateia que encheu por completo a sala do Hotel Holiday Inn, em Gaia, estava à espera de ver Luís Filipe Menezes entrar pela porta, mas o presidente da Câmara Municipal de Gaia desmarcou à última da hora, evocando que "não seria curial da minha parte, correndo seriamente o risco de ser indevidamente interpretado, utilizar um convite que me foi dirigido e que foi aceite enquanto líder do PSD para expressar o meu pensamento político, pouco tempo após ter cessado o exercício de tais funções".
Por isso, as principais intervenções ficaram a cargo de Vicente Jorge Silva, fundador do jornal Público e comentador, Nassalete Miranda, directora de O Primeiro de Janeiro, e Joaquim Jorge, fundador do Clube. A plateia contou com nomes sonantes da sociedade portuguesa que também falaram, como Garcia Pereira, Narciso Miranda, Paulo Morais, João Teixeira Lopes , o médico Pinto da Costa . Lino Ferreira esteve presente. Luís Montenegro chegou por volta das 23h30m de Lisboa para dar um abraço a Joaquim Jorge.
Vicente Jorge Silva começou por referir que não tinha um projecto político viável para Portugal e acrescentou que não vê, quer o Governo, quer a oposição, a apresentarem "um projecto político legível e compreensível para as pessoas". O comentador político compreende que o PS aposte nas grandes obras públicas, mas salienta que "a crise internacional a nível financeiro, energético e alimentar, que veio para ficar, coloca em causa os pressupostos destes projectos". Vicente Jorge Silva referiu igualmente que a nova líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, "concorda que o Governo faz um esforço" para consolidar as contas públicas, mas depois diz "que não há dinheiro para nada".
Nassalete Miranda acusou os políticos de desrespeitarem o futuro de Portugal. O exemplo está no "laxismo e deseducação nas escolas", na saúde "estamos doentes" e que os políticos são "extremamente fortes para quem é fraco e extremamente fraco para quem é forte".
O biólogo e fundador do Clube dos Pensadores falou na mudança interna dos partidos "para mobilizar as pessoas contra os feudos". Joaquim Jorge desafiou todos os políticos a "unirem-se em torno de um projecto, que é Portugal" . Acrescentou que “os políticos não dizem o que pensam nem fazem o que dizem”.
Da plateia, Garcia Pereira relembrou que o país "é de longe o da União Europeia onde as diferenças sociais são maiores" e perguntou por onde "andam os milhões de euros da União Europeia". Já Paulo Morais, ex-autarca do Porto, afirma que Portugal "é viável", mas o que impede o progresso é condicionamento das pessoas pelo Estado e que este "está cada vez maior, o que o torna mais fraco".
Narciso Miranda realçou o "impulso reformista do Governo de José Sócrates, mas o problema é que se fica muitas vezes pelo impulso". João Teixeira Lopes, do Bloco de Esquerda, diz que os políticos têm que se moldar e não podem deixar que "sejam os conselhos de administração das grandes empresas a fazer política". Já o médico Pinto da Costa ironizou com quem nos tem governado nos últimos anos, dizendo que "são pessoas muito inteligentes, mas por vezes parecem atrasados mentais".

Rui Santos