23/07/2008

Mudança de Paradigma

Mário Russo




Com a recente intervenção do Dr. Constâncio acerca do estado da nação e do seu discurso da crise (muito original) apetece-me fazer algumas perguntas não só a ele, mas a outros gurus da economia, nacional e internacional, mas também a cada um de nós.

Estou farto de ouvir a palavra crise, crise, crise. As soluções parecem ser a fome e a miséria. Até o FMI veio dizer (agora) que os portugueses vivem acima das suas posses há muito tempo (onde estavam esses senhores e o que dMisseram em relatórios anteriores?). Dizem que o problema é interno de Portugal, etc. Até o discurso da nova líder do PSD, MFL, é rançoso, cinzento, sem chama, sem ideias – o novel TANGA versão 2.
E o que se passa nos outros países do hemisfério norte em que os gurus também inundam de profecias da crise - energética e dos alimentos? É crise interna?

Então vamos às perguntas para esses gurus profetas da desgraça. Que argumentos me farão acreditar que agora as suas previsões estão certas? Afinal de contas foram eles mesmos que ainda há pouco vaticinavam crescimentos mundiais espantosos para a economia. Será que eles só acertam nas desgraças? E não apresentam soluções inovadoras, aproveitando os avanços tecnológicos, cruzamentos de dados informáticos, etc. para propor soluções credíveis? Só falam em aumento das taxas de juro, arrochando ainda mais o povo e travando a marcha das economias.

Se há falta de alimentos, não será uma oportunidade de ouro para redefinirem-se políticas agrícolas não depredadoras de recursos, acabando com o injusto proteccionismo de que gozam os grandes grupos de marajás agrícolas da União Europeia e EUA, que tem desestimulado a produção de alimentos nos países de África e América do Sul? Além de permitir que os pequenos agricultores tenham a sua chance de produzir mais, já que têm estado arredados das “mamatas” que os grandes senhores da agricultura recebem injustificadamente (só possível pelo cartel que constituem) via PAC da UE ou dos EUA (política agrícola cobarde).

Petróleo caro: não é altura de desbloquear os empecilhos que os fabricantes de veículos e da indústria petrolífera têm mantido sob pressão para atrasar o avanço de energias alternativas e de veículos com combustíveis alternativos? Não é altura de se desbloquear os impedimentos “fundamentalistas” da construção de barragens para produção da hidroelectricidade, obviamente sem prejuízo de avaliações de impacto ambiental sérias e não “xiitas”. Não é momento de mudança dos procedimentos de compra do petróleo, através de uma central de compras da UE, acabando com os atravessadores?

Não é altura de acabar com as bolsas de mercados e futuros (BM&F), que esgotou o modelo, servindo agora de ancoradouro de grandes fortunas que especulam com o futuro da humanidade, de milhões de milhões que não podem especular, gerando insegurança quanto ao futuro? De que estão à espera os governantes (G8 e quejandos)?, que se estabeleça a fome e miséria com consequente guerra civil ?

Esses senhores estão a brincar com o fogo. Podem especular, recuperar desta forma acintosa e ignóbil o que perderam no sub-prime americano, mas pode ser que se vire o feitiço contra o feiticeiro, porque estão a começar a esmagar as classes médias mundiais e, como se sabe, elas é que iniciam as revoluções, atrás das quais toda a sorte de deserdados caminha selvaticamente assaltando e pilhando. Uma nova Bastilha será necessária?

Que tal não dar importância aos economistas reveladores da desgraça, que se julgam pitonisas que adivinham o futuro. Os modelos matemáticos de previsão económica desses senhores está velho e obsoleto. Ao contrário dos modelos de previsão dos meteorologistas, que evoluiu imenso nos últimos anos, o dos economistas ficou anão e raquítico. Se tivessem de pagar impostos pelos erros das suas previsões, já estariam falidos. Eles não fazem parte da solução, são o problema. Só por masoquismo é que se acredita em quem reitera e estrondosamente falha.

Por tudo isto proponho que se fale de Mudança. Tempo de mudança. Neste particular, há que tirar o chapéu a José Sócrates, que pelo menos quer dar uma sapatada em tudo isto. Podemos discordar das terapias, mas não se tem mostrado resignado. Lamento que tenha dado tantos tiros no pé que hoje poucos acreditam nele, quando mais preciso era.


permanente no blogue