02/05/2008

UMA AMBIGUIDADE ?


Guacira Maciel


“Sem a música, a vida seria
um erro, um abuso, um exílio”.
(Friedrich Nietzsche)



Poder-se-ia definir o que seja arte, partindo de conceitos pessoais? Seria ela uma paixão, uma ambigüidade?
Disse Mário de Andrade: “devo confessar preliminarmente, que eu não sei o que é belo e nem sei o que é arte.”.
Tampouco eu o sei; mas concordo que “todo artista tem que ser ao mesmo tempo um artesão”; como as aranhas...
Falando acerca da importância dessa condição primeira de artesão, diz ser “imprescindível e inensinável [...] um fenômeno de relação entre o artista e a matéria que ele move [...] se o espírito não tem limites na criação, a matéria o limitaria na criatura”.
Acredito que se fôssemos definir arte, terminaríamos por impor-lhe limites guiados por tendências estéticas e por uma lógica que a arremessaria no centro de sistemas, de leis de mercado, de fenômenos baseados em conceitos globais, generalizados...
Ao artista não interessa definir o que faz, mas expressar o que percebe; o que sente; só sei dizer que arte é caminho de busca. E voltando à palavra de Mário: “é justamente a atividade artística que nos abre um dos caminhos mais penetrantes de introdução ao ser”.
E quanto à definição de belo? Existirá uma única forma de beleza?
Segundo Baudelaire, um dos representantes da critica moderna: “a beleza absoluta e eterna inexiste, ou melhor, é apenas abstração empobrecida na superfície geral das diferentes belezas. O elemento particular de cada beleza vem das paixões, e como temos nossas paixões particulares, temos nossa beleza particular”.Percebe-se, por certo, o quanto a Filosofia se envolve com a Arte e buscou-se como referência para evidenciar isso aqui, a definição do filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995), que disse ser a “Filosofia a Arte de criar conceitos”, e que estariam ai, implícitos, dois importantes aspectos a serem considerados entre as duas: o primeiro, que a criação não está restrita ao mundo dos artistas ou “profissionais de propaganda e marketing” e a outra, a compreensão de que os conceitos nada têm a ver com a palavra final sobre qualquer coisa; eles não têm o poder de transcender, absolutamente, as vivências humanas; e seriam formas buscadas pelo pensamento para lidar com as nossas questões.
Além dessas, outras intimidades entre Arte e Filosofia são detectáveis: olhares diferenciados sobre a vida e certo distanciamento das suas demandas, para que seja possível compreendê-la, o que nos traz uma amplitude muito mais interessante, como na arte... e, por isso, a percepção também de outras realidades possíveis. Mas esse distanciamento atemporal não poderia significar alheamento, nem superficialidade, mas a possibilidade de mais um caminho, outra consciência em ralação ao mundo e as pessoas.
Compreendem como a perspectiva é fundamental em ambas para a permissão de outras vertentes e aprofundamento? Para entender isso será necessário aprender a subjetivar; exercitar esse distanciamento provisório, para uma compreensão mais ampla. Ambas têm desconfiança de uma verdade imutável e única e assim, preparam os alicerces para outros universos.
Como dar respostas satisfatórias e definitivas a questões relativas e circunstanciais, uma vez que há tantos envolvimentos? Arte e beleza se envolvem também com o amor... E existirá uma definição para o amor?


professora , poetisa e frequente no blogue