28/10/2007

ESCUTAS

JOAQUIM JORGE


Eu escuto , tu escutas, Procurador Geral da República ou um normal cidadão. Sim, acho que numa sociedade equitativa todos somos iguais em direitos, apesar das nossas idiossincrasias. Agora muito mal vai um Estado em que o seu Procurador admite que tem dúvidas que o seu telefone esteja sob escuta. A Procuradoria é o órgão superior do Ministério Público. Este por sua vez representa o Estado e defende os interesses que a lei determina, participa na execução da política criminal, definida pelos órgãos de soberania, exercer a acção penal orientada pelo princípio da legalidade e defender a legalidade democrática. Pensei que quem tem estas competências sabe ou ordena escutas, não é escutado. Mas estamos em Portugal, tudo é possível.


Só pode ter sido autorizado e controlado fazer as escutas telefónicas, por quem o nomeou e é seu superior hierárquico. O Ministro da Justiça ou o Primeiro-Ministro? Mas sinceramente não acredito. Pacheco Pereira pôs o símbolo do partido de pernas para o ar, temos que pôr a bandeira nacional de pernas para o ar! Nesta sociedade big brother em que a privacidade deu lugar à intromissão das nossas vidas a pretexto de segurança e controlo, nada me espanta.


Agora são os Militares e PSP que têm fortes suspeitas de estarem a ser alvo de escutas. Eu acredito que existam escutas ilegais. Mas não confundamos mau funcionamento das operadoras de telemóveis, que infelizmente prestam um péssimo serviço, com chamadas a caírem por tudo e por nada, interferências, ruídos de fundo etc. Outra coisa é existirem escutas. Entre a realidade e a ficção vai uma grande diferença, mas que esteve Governo não se livra da fama de controleiro, ah isso não! Parece que entramos numa fobia escutadora e de suspeição. Aliás este Governo é suspeitoso em licenciaturas, otas, professores, funcionários públicos, relação com a imprensa, sound-bytes, cosmética, fazer eco de…, falácia.


No fundo acredito, sim, que procura controlar por escutas e às claras quem faz eco das preocupações actuais em que vivem os portugueses independentemente da sua profissão.Actualmente na política portuguesa o conceito de verdadeiro e falso parecem gloriosamente postos de lado como inúteis pelo menos no que diz respeito a direitos das pessoas, compromissos e comprovativos fiáveis do que se afirma. Só conta a perspectiva do controlo, do que se faz ou de quem ataca e nada mais.De modo que hoje se pode sustentar uma postura e amanhã outra exactamente oposta com o maior afinco sem que seja de bom gosto explicar minimamente a brusca transição entre uma e outra posição.


Esta política bisbilhoteira, que tem o costume de levar contos dum lado para o outro, enredador e mexeriqueiro, não faz o meu género. De facto a produção de noticias e simulacros de todo os géneros com que os factos estabelecidos e conhecidos podem ser negados, esquecidos e mistificados, sendo susceptíveis de manipulação é uma realidade.O importante em democracia não é os governos que dela emanam mas sim o acordo da população e o respeito.A política atravessa uma série crise de confiança. Os cidadãos deixaram de acreditar, pelo menos em parte, na sua utilidade. A culpa é deste continuing show.


*BIÓLOGO

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