Mário Russo
Passei agradáveis férias no Brasil, em que não ouvi nenhuma notícia sobre Portugal (como se este país não existisse). Chego e muito se comenta do empréstimo aos estudantes do ensino superior, como se tratando de uma fantástica medida adoptada pelo governo socialista português, merecendo louvores em verso e prosa, até de Vital Moreira (quem diria).
Lá, no Brasil, o envolvimento de personalidades do mais alto escalão, acusadas de formação de quadrilha e outros crimes financeiros e políticos é tema forte. Os ministros do Supremo Tribunal Federal que acolheram a denúncia contra 40 réus (já denominado do caso de Ali-Baba e os 40 ladrões) sofreram todo o tipo de pressões para claudicarem ante a verdade. É um caso que envolve milhões e milhões de dólares, gente muito influente, importante e rica, sobretudo branca. O relator do processo, Joaquim Barbosa, é negro e o Tribunal presidido por Ellen Gracie, uma mulher branca, foram os protagonistas fortes e intransigentes. Pode parecer pouco, mas é muito num país que ainda não se livrou do coronelismo e caciquismo remanescente das capitanias hereditárias da época colonial.
Falta saber, ou melhor, apurar a responsabilidade de Ali-Baba, ou seja, de Lula da Silva, que se tem passeado pelo Brasil como se nada fosse consigo, a distribuir esmola através de “bolsas” (bolsa-escola, bolsa-família, bolsa-transporte, bolsa-gás, bolsa… sei o quê), à custa do erário público, numa monumental manobra de propaganda política. A ajuda é necessária, porém, sendo apenas assistencialista, como ele próprio acusava o governo de Fernando Henrique Cardoso que tinha apenas um “bolsa-escola” (para obrigar os pais a levarem os filhos à escola, contra o recebimento de uma bolsa mensal), atrela milhões de deserdados à esmola ou à mendicância futura. Com efeito, até quando é possível dar o Mensalão e Mensalinho I
peixe, sem ensinar a pescar?
Lula da Silva é um duplo, que faz o discurso do poder e, por vezes no mesmo palco, faz de oposição, criticando o que está “podre” no sistema político brasileiro, como se ele fosse um extra-terrestre, acusando os “outros” – os ricos e os seus antecessores – dos males da governação, que dos pobres, como diz, cuida ele. Neste aspecto o Brasil regrediu, só não sendo trágico porque a sociedade civil arregaçou mangas e continua a trabalhar, alheio aos dislates políticos tupiniquins.
Outra estratégia do Presidente é anunciar programas fabulosos, para daqui a 10 ou mais anos, quando não estará mais no governo. Até faz inauguração de lançamento da primeira pedra de certos programas/projectos. Teatro e mais teatro. Inacreditável. Lá, como cá, muitas semelhanças, à dimensão dos respectivos países. Voltarei ao assunto.
11/09/2007
MENSALÃO e MENSALINHO I
engenheiro , professor no IP de Viana , membro do clube e frequente do blogue