Mário Russo
Concordo com a posição intransigente que Joaquim Jorge tem tido ao denunciar esta negociata da OTA, chamando a atenção para a sua inconveniência e teimosia política.
Não está em causa a legitimidade que os governos eleitos democraticamente têm para governar com o programa que propuseram ao povo. Mas nem sempre tem sido assim, basta ver a promessa de José Sócrates não aumentar os impostos, que foi só tomar posse para aumentar em 10,5% o IVA, que incide sobre todos os produtos e serviços que adquirimos, numa só penada, quando passou a taxa de 19 para 21%. Os portugueses não pensaram nisso, pois foi “apenas” um aumento de 2 pontos percentuais ao dito imposto. Só com esta medida, o governo aumentou a inflação quase em 10% e cada português ficou mais pobre 10,5%. Recentemente o ex-ministro Miguel Cadilhe, um especialista em finanças públicas, disse que o aumento de impostos foi um erro colossal, mas Sócrates muito “rigoroso” diz que é uma irresponsabilidade dizer o contrário.
O desemprego atingiu a maior taxa em 20 anos e a actividade económica teima em não avançar, pese embora os power-points governamentais. Os mega-investimentos de REGIME, que o Sr. Sócrates pretende associar à sua figura, ao bom estilo dos ditadores, como é o caso do TGV (sem estratégia integrada) e do novo aeroporto na OTA, não são a solução para o desemprego. A cada português corresponderá uma quota-parte de 320.000€ do custo só com a OTA. Porquê, então avançar com tamanho desperdício de dinheiro numa opção desastrosa? A discussão técnica no “Prós e Contras” da RTP com engenheiros reforçou a ideia da existência de soluções a sul do Tejo que servem uma estratégia de desenvolvimento claro do país por metade do custo. O que não se compreende é a teimosia do PM e do ministro Mário Lino, engenheiro de formação, com conhecimento suficiente para não aceitar a solução que lhe estão a impor. Há uma chantagem ambientalista vergonhosa das associações ambientalistas mediáticas (Quercus, LPNs, GEOTAS) ao dizer que a OTA é o mal menor. Menor em quê? O argumento de que a região de Setúbal e de Lisboa, abastecida do lençol freático da zona de Rio Frio, ficaria sem água, é totalmente desproporcionada e de fácil justificação técnica e científica, que não cabe aqui explanar. Ameaçar com o “inferno” e o caos a sul do Tejo e branquear as obras na OTA é impróprio de um engenheiro, porque viola o seu código deontológico. Achar “normal” fazer-se um aterro consolidado equivalente a executar uma Muralha da China com 1000 Km e uma secção de 6x10m de altura não é sério. Para essas organizações ambientalistas, desviar ribeiras, entubar rios, cortar uma montanha, aterrar uma zona de recarga de aquífero (que também contribui para alimentar o lençol da bacia de Setúbal) com mais de 60 metros com solos seleccionados e retirados de outro local, provocando uma ferida na paisagem, se for na OTA não tem impacto ambiental, não é sério. Já percebi, ou é porque o anterior presidente de uma destas organizações é o actual secretário de estado do ambiente (que no governo anterior era contra a OTA)? Eu sei que os enormes desafios que se colocam na construção do aeroporto na OTA não são um problema para a engenharia, que os resolve e bem. Mas seguramente são um grave problema para os portugueses, porque vão pagar a leviandade de um governante autista que, pelos vistos, não prima pelo rigor. Não sabe fazer contas. Outro argumento de alguns que desejam que a OTA avance o mais rapidamente é o de que a localização anda a ser estudada há mais de 30 anos. Meus amigos, ao ritmo que evolui o conhecimento, os estudos estão todos obsoletos. Ninguém vai defender uma tese de doutoramento cuja pesquisa foi feita há 30 anos sem se arriscar a reprovar pela obsolescência do objecto pesquisado. Não podemos ficar reféns do passado e muito menos dos seus erros, cometendo outro erro. Cabe, então perguntar quem são os beneficiários de tão desastrosa decisão? Quem são os verdadeiros donos daqueles terrenos para valer a pena “degolar” um povo? Será um mistério estilo Código Da Vinci para Dan Brown desvendar?
Se há um motivo para os portugueses reflectirem sobre o seu futuro e impedir que o mesmo seja hipotecado neste século, é a sua mobilização contra este crime de lesa-pátria, indignando-se e vindo para as ruas. Um movimento destes em todo o país é mais importante que todos os movimentos de sindicatos em luta por melhores salários, ou contra o desemprego, porque se não se travar esta obsessão não há aumento de salários que resolva, nem soluções para o desemprego. É um elefante branco ao bom estilo do ditador africano Bokassa e o seu palácio real. Está na força da nossa acção travar esta loucura. Aos membros do Clube cabe uma acção cívica escrevendo contra esta barbaridade, engrossando o seu poder de opinião.
engenheiro e membro do clube