20/03/2007

Vice-presidentes das Câmaras do Porto e Gaia defendem pacto de regime para a regionalização



O fraco desenvolvimento e o baixo nível competitivo do Norte de Portugal são prejudiciais para o país. Esta foi uma das ideias principais que ficou patente na passada segunda-feira, no debate do Clube dos Pensadores, sobre o tema 'O Norte e o Porto no Contexto Nacional', que decorreu no Hotel Holiday Inn, em Gaia.
Tiago Silva

No painel de debate, Álvaro Castello-Branco (vice-presidente da Câmara do Porto), Marco António Costa (vice-presidente da Câmara de Gaia) e Rui Sá (vereador da CDU na autarquia portuense) defenderam um pacto de regime entre as forças partidárias nortenhas que estude a regionalização. Ideia que já tinha sido realçada por Agostinho Branquinho, presidente da distrital do PSD.

Esta seria uma das soluções para combater a diminuição do investimento público numa região que, apesar de ser a mais jovem e de representar 46% das exportações nacionais, detém as maiores taxas negativas de desemprego (9%) e de mortalidade infantil e o menor PIB per capita.

O vice-presidente da Câmara do Porto, Álvaro Castello-Branco referiu que só uma regionalização e uma alteração profunda na organização político-administrativa nacional poderá ajudar Portugal a evoluir. Para o líder da distrital do CDS-PP, os agentes políticos "têm que entender que o declínio do Norte é o declínio do país, o que aumenta o desfasamento em relação à União Europeia".

Por sua vez, Marco António Costa, para além de defender a regionalização, salientou que a região Norte "tem que perder o medo dos políticos da Capital". O vice-presidente da Câmara de Gaia relembrou a sua passagem pelo Governo e "dos ataques" que sofreu, mesmo dentro do PSD, por defender a região pela qual foi eleito. Para o autarca é preciso criar "um movimento de pressão" que combata o ‘lobby’ do Sul.

Já Rui Sá referiu que via ‘com bons olhos’ a aproximação "de quem foi contra a regionalização e votou contra" no anterior referendo. Segundo o vereador da CDU na Câmara do Porto, "o Norte tem potencialidades para se desenvolver, mas que necessitam de ser aproveitadas. Mais vale uma má regionalização do que não ter nada". A localização geográfica estratégica da região, com a proximidade à Galiza, é um dos factores principais que os agentes políticos devem aproveitar.

O empresário Manuel Serrão referiu que existem diferenças entre as regiões e, por isso, "os objectivos são diferentes, logo, as soluções também o são". Neste sentido, a regionalização é o passo certo "para a afirmação dos interesses regionais e os recursos devem ser aproximados à zona onde são geridos".

Joaquim Jorge, biólogo e fundador do Clube dos Pensadores, abordou a inoperância dos agentes políticos do Norte como uma das causas principais para a actual crise da região. Para o professor, os deputados que estão na Assembleia da República e que são eleitos pelo Norte "mal passam Coimbra esquecem-se do que está para trás", mas também dos "líderes politico-partidários que evitam fazer ondas".

Por isso, Joaquim Jorge não defende uma regionalização, mas sim uma reorganização político-administrativa do Estado, com a diminuição de determinadas estruturas, para assim "diminuir a despesa pública e evitar poderes paralelos", acrescenta que "Portugal deve ser um dos países do Mundo que mais desperdiça recursos e oportunidades".

O convidado da plateia foi o economista Ricardo Arroja que referiu que as verbas estipuladas no QREN vão aumentar ainda mais o fosso entre a região de Lisboa e Vale do Tejo e o resto do país, principalmente o Norte de Portugal.

As cerca de 150 pessoas que se deslocaram ao Hotel Holiday Inn, em Gaia, (tendo em conta que era o dia do Pai, que havia um jogo futebol na televisão e um excelente debate no programa ‘Prós e Contras’), preconizaram mais uma vez um excelente debate, onde saltaram diferentes opiniões, mas onde existiu uma consonância: o Norte está em crise.