05/02/2007

Contra um Não egoísta! SIM

VÍTOR MARQUES

Eis o dilema, resolver um problema de saúde pública ou manter os valores actuais da sociedade.
O aborto não é um assunto de hoje. Todos sabemos que estas intervenções clandestinas, feitas em condições de higiene precária, sem qualquer segurança, em locais e por pessoas sem condições para tal, têm muitas vezes como resultado mazelas para toda a vida.

É justo acusar uma destas mulheres que decidiu por consciência fazer o aborto, na maior parte dos casos por impossibilidade de dar condições dignas ao filho? A meu ver não. Se todo o processo de gestação ocorre dentro da barriga da mãe, só ela e o seu parceiro têm poder de decidir o que fazer. A mulher não deve, em nenhuma circunstância, ser apontada ou criticada pela sua atitude. Nem todas as mulheres que recorrem ao aborto são a favor do aborto. Por norma, verifica-se uma necessidade sobreposta a uma vontade.

No dia do referendo estou certo que a razão se vai sobrepor ao egoísmo. É certo e sabido que quem votar SIM, nem sempre é a favor do aborto, mas todos os que vão votar NÂO são contra o aborto. Ora, isto leva-me a concluir que o voto no NÃO é um voto egoísta. Porquê? Simples. Neste momento a sociedade está dividida em duas partes, uma pelo NÃO e outra pelo Sim. Os apoiantes do SIM, ainda que contra o aborto, possibilitam a quem quiser recorrer à prática, que o faça de forma legal e segura, por outro lado o voto no NÃO, inviabiliza toda e qualquer mulher de o fazer.

Eu questiono, não será egoísmo pessoal o facto de não concordarmos com a realização dum aborto, inviabilizar qualquer mulher de o poder fazer? Agora não basta criar condições para a prática do aborto. É importante chegar junto das populações mais vulneráveis, e sensibilizar para que a prática do aborto não seja considerada como um método contraceptivo, mas sim uma solução de recurso extrema.

Tem-me incomodado algumas palavras dos apoiantes do NÂO, como por exemplo, o caso do número de abortos feitos por mulheres portuguesas irá disparar caso o SIM vença. Não creio que seja assim, na medida em que hoje só se conhecem as intervenções legais, muito poucas, desconhecendo-se o número de abortos praticados ilegalmente. A ser legal todos os abortos passarão a ser contabilizados e os números serão outros, mas na prática não será mais do que contabilizar o que nunca foi contabilizado.

Quanto à igreja católica, a meu ver, cada vez com menor expressão na sociedade, tem proferido também palavras desajustadas tanto a nível temporal como social.
Uma luta contra o aborto é invencível. É, portanto, necessário consenso a favor da legalização e dar condições a quem nele encontra a última solução. É importante sobrepor a razão ao egoísmo pessoal, em favor de toda uma sociedade já de si demasiado fechada à evolução natural das coisas.
Estudante ISCSP-UTL