09/02/2007

A CAMPANHA

Agora que nos aproximamos do dia 11, mais que falar importa calar.

LUÍS GOURGEL SILVA


Agora que nos aproximamos do dia do referendo, mais que falar importa calar. Deixar as pessoas reflectir, pensar na opção que vão tomar, se votam SIM ou NÃO e ter consciência que no dia 11 não é só o aborto que vai a consulta, é também a instituição do referendo.

A Campanha do referendo à despenalização da interrupção voluntária da gravidez (IVG), decorreu como se esperava:

1) Nos "media", grande parte os oradores foram políticos, juristas, médicos, teólogos e padres. Na televisão e na rádio, reinou a guerra de audiências com debates constantes, com a confusão que já estamos habituados onde vale tudo. Extremaram-se opiniões, esgrimiram-se argumentos, aproveitou-se para retirar dividendos políticos propondo soluções incoerentes, hipócritas e demagógicas, como a prestação de serviço cívico, pagamento de coimas ou multas como penalização, a quem pretende praticar a interrupção voluntária da gravidez. Nos jornais, publicaram-se artigos diversos, os opinion makers de serviço “deram o seu contributo” em prol da causa que mais acreditam. Tanta informação e desinformação só serviu para baralhar, e neste caso ganha o NÃO.

2) Na Net, aqui pode-se encontrar de tudo um pouco, apoiantes do SIM, do NÃO é como na farmácia há-os para todos os gostos. No entanto, sempre prestam melhor serviço público que a televisão, veja-se o caso do blog clubedospensadores@blogspot.com que abriu o seu sítio de opinião a defensores do SIM e do NÃO, de forma a esclarecer e a explicar ambos pontos de vista. Aqui ganha o “NIM”.

3) Nas localidades e junto das populações, promoveram-se debates, sessões de esclarecimento, criaram-se movimentos cívicos, mobilizaram-se os aparelhos partidários. Por parte do SIM, oprimiu-se a palavra Aborto e substitui-se por IVG, numa manobra de marketing e para não ferir susceptibilidades. Tentou-se explicar que todos são a favor da vida e que apenas se quer que as mulheres não sejam condenadas. Que se pretende acabar com o flagelo do aborto clandestino e que as mulheres e as famílias que tomam uma decisão tão dramática e dolorosa, sejam atendidas com dignidade, por técnicos de saúde. Por parte do NÃO recorreu-se a prospectos com imagens chocantes, fez-se inquéritos às crianças sobre a vida sexual dos pais, tentou-se criar a confusão entre despenalização e liberalização, arrastou-se o tema da IVG para uma questão de impostos, usou-se o extremismo das palavras quando a razão e os argumentos já não chegavam, fizeram-se comparações infelizes com os actos de terrorismo, que ainda estão bem presentes na memória de todos nós. No entanto, o povo hoje em dia não se deixa levar com duas cantigas e após o flop do referendo de 1998, este não está disposto a cair no mesmo erro duas vezes, e por isso mobiliza-se para o SIM à despenalização.

Como dizia George Orwell “… num tempo em que a mentira e o engano imperam, dizer a verdade é ser-se revolucionário.” por isso em Portugal caso o NÃO ganhe, além de não haver educação sexual nas escolas, apesar do planeamento familiar não funcionar, caso se faça um aborto por razões sociais e económicas, ainda se vai preso. Vale a pena pensar nisto…
Gestor