Agora que nos aproximamos do dia 11, mais que falar importa calar.
LUÍS GOURGEL SILVA
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A Campanha do referendo à despenalização da interrupção voluntária da gravidez (IVG), decorreu como se esperava:
1) Nos "media", grande parte os oradores foram políticos, juristas, médicos, teólogos e padres. Na televisão e na rádio, reinou a guerra de audiências com debates constantes, com a confusão que já estamos habituados onde vale tudo. Extremaram-se opiniões, esgrimiram-se argumentos, aproveitou-se para retirar dividendos políticos propondo soluções incoerentes, hipócritas e demagógicas, como a prestação de serviço cívico, pagamento de coimas ou multas como penalização, a quem pretende praticar a interrupção voluntária da gravidez. Nos jornais, publicaram-se artigos diversos, os opinion makers de serviço “deram o seu contributo” em prol da causa que mais acreditam. Tanta informação e desinformação só serviu para baralhar, e neste caso ganha o NÃO.
2) Na Net, aqui pode-se encontrar de tudo um pouco, apoiantes do SIM, do NÃO é como na farmácia há-os para todos os gostos. No entanto, sempre prestam melhor serviço público que a televisão, veja-se o caso do blog clubedospensadores@blogspot.com que abriu o seu sítio de opinião a defensores do SIM e do NÃO, de forma a esclarecer e a explicar ambos pontos de vista. Aqui ganha o “NIM”.
3) Nas localidades e junto das populações, promoveram-se debates, sessões de esclarecimento, criaram-se movimentos cívicos, mobilizaram-se os aparelhos partidários. Por parte do SIM, oprimiu-se a palavra Aborto e substitui-se por IVG, numa manobra de marketing e para não ferir susceptibilidades. Tentou-se explicar que todos são a favor da vida e que apenas se quer que as mulheres não sejam condenadas. Que se pretende acabar com o flagelo do aborto clandestino e que as mulheres e as famílias que tomam uma decisão tão dramática e dolorosa, sejam atendidas com dignidade, por técnicos de saúde. Por parte do NÃO recorreu-se a prospectos com imagens chocantes, fez-se inquéritos às crianças sobre a vida sexual dos pais, tentou-se criar a confusão entre despenalização e liberalização, arrastou-se o tema da IVG para uma questão de impostos, usou-se o extremismo das palavras quando a razão e os argumentos já não chegavam, fizeram-se comparações infelizes com os actos de terrorismo, que ainda estão bem presentes na memória de todos nós. No entanto, o povo hoje em dia não se deixa levar com duas cantigas e após o flop do referendo de 1998, este não está disposto a cair no mesmo erro duas vezes, e por isso mobiliza-se para o SIM à despenalização.
Como dizia George Orwell “… num tempo em que a mentira e o engano imperam, dizer a verdade é ser-se revolucionário.” por isso em Portugal caso o NÃO ganhe, além de não haver educação sexual nas escolas, apesar do planeamento familiar não funcionar, caso se faça um aborto por razões sociais e económicas, ainda se vai preso. Vale a pena pensar nisto…
Gestor