15/02/2007

SERÁ JUSTIFICÁVEL? SERÁ COMPREENSÍVEL?






Será a melhor forma de lutar pelas suas convicções?



José Martins Carvalho

Os últimos dias fizeram já poisar uma grande parte da preocupante nuvem de pó que se levantou para os lados do Hospital Pedro Hispano, no início do ano.
Refiro-me naturalmente ao caso da demissão da quase totalidade dos Chefes de Serviço do Hospital de Matosinhos.
Refiro-me à intervenção da Ordem dos Médicos, particularmente à pessoa do seu Bastonário, neste caso e também no das receitas em quantidades “um pouco” superiores às aceitáveis.

Se eu fosse capaz e se o BLOG fosse o local indicado para suportar longas exposições, poderíamos escrever tantas páginas quantas as de um livro (dos grossos), só com comentários a estas ocorrências.
Vou lançar apenas alguns elementos de discussão e que, como tal, merecem decerto a contestação de alguns, a indiferença dos que se alheiam de qualquer questão, o apoio mais os menos convicto e decidido de outros e no pior dos casos sofrerá a “superior” e “agressiva” indiferença dos intelectualmente mais favorecidos ou mais esclarecidos.

A saúde é uma das principais preocupações, tem um valor incalculável para todos os que desejam que a sua vida e a dos seus corresponda às mais simples ambições. A segurança, a paz, o dinheiro, a droga, o emprego, entre outras e por esta ou outra ordem, têm também muito e muito importante peso, mas todos sabemos que em busca da saúde qualquer um daria tanto quanto tem.
Esta circunstância responsabiliza todos os profissionais da área da saúde. Responsabilidade será a capacidade de cada um perceber claramente quais os seus direitos e também quais os seus deveres para todos e para com cada um em particular. Consciência que limita o direito de tomar certas atitudes contra alguns, ainda que Ministros ou Presidentes, se essas posições prejudicarem ou forem incompreendidas pelo comum dos mortais. A visibilidade, a necessidade e a superior colocação destes profissionais no conceito das pessoas, pode transformar e prejudicar negativamente as intenções.

Vejamos: Que significa a recusa a uma colaboração com a gestão de qualquer unidade? Que significa a recusa ao fornecimento de elementos de gestão e estatística a quem tem de saber, à distância, o que se passa nos centros de custo e produção de qualquer entidade? Que significa a recusa aos procedimentos que fornecem os elementos palpáveis e indiscutíveis do cumprimento dos deveres e obrigações? Porque se recusam aqueles que, como todos sabemos, trabalham muitas horas além dos horários obrigatórios, a registar as suas presenças nos estabelecimentos hospitalares? Porque ameaçam os profissionais responsáveis com o desinteresse e o abandono ou interrupção do serviço? Porquê as habilidades de demissão ou colocação de lugares à disposição? Porque assume a Ordem dos Médicos uma postura sindicalista em vez de reguladora e ética? Porque se preocupa o Bastonário em comparar o número de políticos desonestos com os de outra qualquer classe profissional?

Tenho o maior respeito por todos os trabalhadores honestos e cumpridores. Tenho muito respeito e admiração pelos que exercem a sua actividade profissional diminuindo o sofrimento e aumentando a felicidade das pessoas. Tenho a maior consideração pelos que entendem que uma actividade terá tanto mais prestígio quanto mais respeitados e admirados forem os seus profissionais, mas que não querem que essa admiração seja formada à custa do exercício da superioridade do saber, sobre a necessidade e fragilidade, ainda que esporádica.

Eu exigiria, caso cumprisse e ultrapassasse os meus deveres, o registo da minha actividade, para que dispusesse de comprovativos que me permitissem a reivindicação das alterações necessárias, fossem elas de melhores condições, mais pessoas, mais investimentos, mais salário, etc etc.

Um tiro no pé… é… é o que acontece quando as nossas atitudes permitem, com ou sem razão que os outros pensem quando vêm, por exemplo, um médico a passar no corredor - ali vai mais um baldas que o que quer é não cumprir.

Já sei que os médicos, que poderemos considerar operários especializados (ainda que com uma especialidade difícil, superior, responsabilizante, prestigiada, stressante e de aplicação no que de mais querido têm os seres humanos), não poderão sujeitar-se ao vexame do “relógio de ponto”, mas será isso que se quer?

Bom, as outras páginas do tal livro serão decerto escritas com a livre participação de todos os que desejarem reflectir sobre este problema, que tem influência muito maior do que distraidamente podemos atribuir-lhe, e não resolverem dar o “desprezo” merecido a esta discussão.

engenheiro e membro do clube