Jaime Resende
Este Governo resolveu que estava na altura de fazer um novo referendo para viabilizar pelo voto, a liberalização do aborto até às dez semanas em estabelecimento de saúde autorizado.
Gostaria de salientar que o que está em causa, não são interrupções voluntárias ou descriminalizações, mas sim ABORTO. No pensamento dos iluminados, condições sociais, falta de informação, adolescentes problemáticos e comportamentos de risco, justificam uma lei, que se vier a ser aprovada poderia evitar muitas coisas, mas só se o país fosse o que gostariam que ele fosse, mas que realmente está é longe de o ser.
E mais uma vez fazem-se leis para uma realidade que não é senão mera ficção. Tenho algumas dúvidas que me assaltam no meio de tantas certezas dos adeptos do sim. Parto do principio que os abortos não vão ser feitos na sua maioria por clínicas especializadas, mas sim efectuados em hospitais públicos. Estes, que se já hoje estão em ruptura de atendimento em relação aos partos devido aos encerramentos das maternidades, sim, os abortos serão feitos nas mesmas salas que os partos. Estão lá os equipamentos, está lá a logística, está lá também quem pretende dar à luz – deve ser de todo interessante, ao lado, mesmo ao lado, da mulher que aborta estar uma a dar à luz! O efeito será o mesmo que fazer uma cirurgia de risco elevado na morgue. Há! e depois, nós já sabemos que as grávidas se juntam aos magotes na urgência de obstetrícia com parcos equipamentos para o efeito e com todo o fraco atendimento que é apanágio estas urgências nos hospitais públicos.
Eu pergunto, entra alguém para abortar de urgência, mas também alguém para dar à luz, existe uma equipa a trabalhar, o que é frequente, o que será mais urgente? A morte, ou a vida? A morte de quem aborta, ou a morte de quem dá a luz? Ou de uma criança? Claro que serão muitos a dizer que não haverão tantos abortos assim (se não são tantos, porque é que o usam como estatística?).
Claro que serão muitos a dizer, a maioria vão para clínicas (mas afinal não são pessoas com parcos recursos que fazem abortos no vão de escada?!)
Claro que serão muitos a dizer que terão que ser criadas condições para o aborto com dignidade (o aborto precisa de mais dignidade que uma sala de partos para dar vida?!) Será que as filas de espera vão deixar de existir? Ou nestes casos mandarão a mulher para casa para ser chamada quando houver vaga?
Hã! As despesas de contenção e os cortes na saúde e com as taxas de internamento à mistura, só vão existir para os outros, ou também para quem aborta?
Minhas caras amigas e amigos, o que é a realidade é uma coisa, o que gostaríamos que ela fosse é outra. Num marasmo político como o português em que não existe matéria de índole fracturante no aspecto ideológico, só nesta matéria parece haver diferenças abissais. É aqui que reside a hipocrisia do acto que vai piorar a moral já fraca deste país.
O PS confunde-se com o PSD, não há esquerda nem direita na política corrente, mas na moral, infelizmente, a direita dá dez zero …
consultor e membro do clube