15/11/2006

PROFESSORADO





Este governo procurou virar a opinião pública contra os professores como uma classe de privilegiados


JOAQUIM JORGE

O espantoso deste braço de ferro entre o Ministério da Educação,vulgo Sócrates,pois ninguém tem dúvidas que a condução de todas as políticas tem a sua supervisão e controle absoluto e férreo, foi procurar virar a opinião pública, contra os professores como uma classe de privilegiados .Mais tarde, procurou colocar os pais contra os professores, mas teve um percalço, que foram os exames de 12ºano,correram mal, e aí, os pais insurgiram-se contra a ministra,pudera estava em causa os seus filhos. Por fim, não conseguindo os seus intentos, tentou virar os professores mais novos contra os mais velhos, aliciando-os com melhores salários.
O que me parece depois da marcha de protesto no dia 5 de Outubro, complementada com a greve nacional de professores , as mudanças na educação não se tornam eficazes sem o envolvimento dos professores. A avaliação dos professores, não pode ser orientada por políticas económicas. A educação é uma questão que diz respeito a todos,aos professores,aos alunos,às famílias , às instituições e ao governo. Só com o respeito,o reconhecimento e o apoio de toda a sociedade será possível realizar tal desígnio. É necessário diálogo, colaboração dos pais, legislação que permita aos pais irem à escola ( actualmente existe só para os funcionários públicos), animadores culturais para a guarda das crianças, investir na melhoria das condições de trabalho dos docentes, melhores remunerações ( sim,os professores em função da sua responsabilidade ganham mal, em relação a outras profissões),incentivar a fixação no interior, investir em pessoal auxiliar,etc.
Revalorizar a imagem social do professor ( culpa dos comentadores de serviço assim como algumas atitudes de professores). Vincar o papel imprescindível do professor na sociedade actual. Sobrevaloriza-se aquilo que falta alcançar e pouco reconhecido aquilo que é alcançado.Existe uma hiper-responsabilização do professor em relação à sua prática pedagógica e à qualidade do ensino.A readaptação constante nesta sociedade que caminha à velocidade da luz,como diz Fernando Savater “ os professores ensinam agora,aquilo que não aprenderam,tendo que se readaptar”.No fundo um bom professor passa a vida a estudar para puder ensinar. Mas é preciso ter em atenção a forma como se ensina aos jovens aquilo que eles já sabem há muito tempo, ( Informática) assim como o ensino de Inglês é importante mas antes é necessário consolidar as aprendizagens a Português e Matemática.Esse esforço está longe de ser aproveitado. As aulas de substituição deveriam ser colocadas no horário do professor, na componente lectiva definida e não para além dela, provocando uma sobrecarga inexplicável a nível pedagógico, mas plausível por teorias economistas. O mal-estar dos professores deve-se à sua desvalorização profissional constante e aos cortes orçamentais na política educativa.
Ao perscrutar esta animosidade contra os professores,entendida como uma classe privilegiada e cooperativa, isso deve-se a “factores microscópicos” que não aparecem nos relatórios e nos inquéritos,mas que explicam em grande medida,enquanto atitude mental,o nosso atraso secular, aponta a inveja ,o ressentimento e o queixume como factores que obstam ao progresso. O poder psicótico da inveja só pode vingar perante a condição frágil que “constitui a condição geral dos portugueses”. Os professores são vistos como uma classe de privilegiados que trabalha pouco e tem muitas férias. A inveja tem um lugar destacado na sociedade portuguesa actual: o facto de esta sair de um regime de desvalorização,humilhação e mutilação das forças da vida do individuo,neste caso,dos professores.
Mas o governo tem a sua quota parte com a revelação de dados não fidedignos e manipuláveis,o que mostra a sua capacidade de cosmética e dissimulação. Então esta última proposta, com a chantagem ,ou se calam ou não há cedências foi um tiro no pé. Negociar é esgrimir argumentos, não é impor ou condicionar.Não me esquecendo que o Ministério foi obrigado, pelo Tribunal em Coimbra, a repetir para dois alunos,o exame de química e faltam ainda conhecer os muitos processos em curso ( providências cautelares), por exemplo, em Lisboa.



artigo publicado no Semanário em 10/11/2006