O descontentamento grassa, a impotência para serem entendidos leva a que muitos desejem abandonar esta tão nobre profissão
JOAQUIM JORGE
A manifestação, realizada num dia feriado (5 de Outubro) tocou-me de sobremaneira; primeiro porque os professores são sempre acusados de fazerem greve antes ou depois de fins de semana , depois a adesão à greve que foi significativa, tendo em conta os seus salários ( apesar de parte da opinião pública achar, que são bem remunerados). A insatisfação e o mal-estar dos professores deve-se a variadíssimas razões, vou salientar algumas.
A especialização é que é enaltecida. A ideia da complexificação de funções e das responsabilidades do professsor, em vez de ser valorizada, contribui para a imagem que exerce um trabalho pouco especializado que qualquer um poderia realizar. Exige-se ao professor, além de novos métodos e técnicas de ensino, novas funções e responsabilidades, o que representa uma sobrecarga de trabalho. Por outro lado pretende-se que mantenha a disciplina e simultaneamente, seja “amigo” dos alunos, ou atribui-se à escola a função de promover a democratização e a igualdade, mas exige-se-lhe que diferencie e seleccione em função de critérios de excelência.
A educação é encarada como “despesa social” ou “gasto supérfluo”.O nível de exigência político está muito a acima das possibilidades actuais dos professores, tendo em conta a sua preparação profissional e as suas condições de trabalho. Usando uma metáfora do atleta do salto em altura. Se um atleta salta 1,80m e a fasquia é colocada a 1,85m,ele tentará saltar com um esforço maior e pode assim conseguir melhorar o seu desempenho mas, se a fasquia for colocada a 2m,ele nem sequer tenta saltar porque considera que não vai conseguir. É o que está acontecer com a política educativa deste governo, uma discrepância entre os objectivos economico-políticos e a realidade da educação escolar. As reformas não se fazem por decreto e devem ser progressivas e participadas. Revalorizar a imagem do professor e do trabalho docente, o que passa pelo maior reconhecimento dos objectivos educativos alcançados e do papel imprescindível do professor na sociedade actual.
Sobrevaloriza-se aquilo que falta alcançar e pouco reconhecido aquilo que é alcançado.
Para agravar a situação a política governamental, pretende que as medidas são boas, porque noutro país (Finlândia), considerado evoluído, essas medidas já foram adoptadas. Na realidade, os países são diferentes e seria conveniente ter em conta essa diferença. Muitas vezes argumenta que o critério da maioria é o critério da verdade. Justifica, defendendo as medidas na educação, não porque sejam as que melhor resolvem os problemas que se propõe atacar, mas porque a maioria do povo votou neste governo.
Quando não consegue argumentar, procura desvalorizar os professores e seus representantes, atacando não os argumentos mas as pessoas que os sustentam.
Finalmente a falta de autonomia do professor em que tudo é questionado, assim como a desautorização constante, não esquecendo a acintosa manipulação (faltam muito e trabalham pouco). O descontentamento grassa, a impotência para serem entendidos leva a que muitos desejem abandonar esta tão nobre profissão. Por este andar vai acontecer como em Inglaterra, há falta de professores e tem que ser contratados estrangeiros. Aqui não falta muito, para que ninguém deseje ser professor.
ARTIGO PUBLICADO NO OPJ EM 5/11/2006