19/11/2006

NARCISO MIRANDA




Toujours les places (sempre os lugares)

JOAQUIM JORGE

1- Não entendo as suas declarações à Sic Noticias. Sempre a dizer bem e a elogiar José Sócrates, apesar de ser sempre ostracizado, ignorado e desprezado. O que devia fazer, era estar calado, era o mínimo, para bom entendedor. No congresso, esteve na bancada como convidado ou observador! O seu ex-amigo Manuel Seabra esteve na COC (comissão organizadora do congresso), entendido como uma promoção aos olhos dos militantes.
No Porto, nem se fala, na forma como tem sido tratado, há gente masoquista. Eu compreendo a sua ligação, de tantos anos ao partido, mais parecendo umbilical, mas quem não se sente não é filho de boa gente.
Eu por mim vou deixar de falar deste assunto, pois se o próprio visado acha tudo normal , quem sou eu, para questionar o que quer que seja. Gostava que tivesse outra estatestesia e behaviorismo.
Mas dou um conselho a Narciso Miranda, deixe de humilhar-se e rebaixar-se, para ter o beneplácito do partido, por favor, respeite quem o apoia ,segundo Shakespeare,« a memória é a sentinela do espírito». Já Napoleão dizia que «uma cabeça sem memória é uma praça sem guarnição». Para se merecer ganhar é preciso saber-se perder. Deve muito ao PS, mas o partido também deve muito ao Narciso.
Não lhe deram um lugar no congresso, compatível com o seu prestígio e com o seu historial , o que foi lá fazer? Não devia ter ido. Verdade, apareceu na televisão (os correligionários ignoraram-no, mas os “media” não), bem feito.
A política tem destas coisas, mas para mim não vale tudo para se atingir os fins.Se não me querem em determinado local ,tudo bem, até logo que se faz tarde, ainda mais se eu tivesse feito tanto por essa instituição.Mas há coisas que não são perceptíveis e entendidas, sendo entenebrecidas. O tempo é bom conselheiro, Narciso deve esperar calmamente e na hora certa tomar uma decisão sem ser dúbio, como diz C. Fiessenger, «pede tudo a ti mesmo e nada aos demais».

2- Quando se lê, que Sócrates telefona a Assis e tenta travar mal-estar no PS-Porto, deveria ter mais cuidado e estar atento ao que se passa na maior distrital socialista. A despromoção e exclusão de muita gente é notória. A subalternização de Assis transparece. Os seus interlocutores privilegiados não lhe estão a dar as informações fidedignas e correctas. Deve ouvir outros. A paz é podre há muito tempo. O Porto deve ser falado por ter um projecto de abrangência de todos os socialistas e encontrar a fórmula de reconquista do maior número de câmaras.Porém é falado por lugares, em que uns estão desgostosos e outros joviais. Quem consultar a lista da comissão nacional do PS que engloba 251 personalidades percebe que foi dada primazia às ligações do actual presidente da distrital do Porto que está imbuído do desejo de ser reeleito e porventura candidato à CMP . A renovação e a envolvência fica para a próxima. Os lugares foram ocupados pelos velhos do Restelo, e Sócrates tem que saber que existe no Porto gente com valor que quer participar e intervir mas lhe é vedado por variadíssimas razões .O PS no Porto faz-me lembrar um spot da televisão “o programa segue dentro de momentos”. Quem indicou os nomes do distrito do Porto para a comissão nacional?Eu sei,mas não digo. Quais os critérios? Obediência e estar calado! Ficar na comissão nacional é uma forma de ter acesso à comissão política que só tem 65 membros.”Toujours les places” ( sempre os lugares). Apesar de ser militante de base tenho procurado em diversos meios de comunicação social alertar para este estado de coisas, no OPJ e ainda a semana passada saiu um artigo meu no Público “Política Socialista”. Não posso ficar calado perante este estado de coisas.Não tenho que estar em cargos dirigentes, como já estive num passado recente, para ser escutado. Muitos dirigentes representam-se a si próprios. Estou envolvido num processo consciencial de me preocupar o suficiente para fazer algo (como não estão prontos a ouvir os actuais dirigentes) ,as pessoas tem que dar o passo de alterarem este estado de coisas. Não há uma visão motivadora. Como militante tenho a responsabilidade de me interessar, que haja alguma massa crítica e que gastemos algum tempo a alertar as pessoas, para elas acordarem e tentarem modificar o declínio do PS Porto. Tenho o dever de tentar fazer do PS Porto uma estrutura partidária melhor, como diz Disraeli , « o poder sem limites, é um frenesim que arruina a sua própria autoridade». O poder que não reconhece limites, cresce, eleva-se, dilata-se e por fim afunda-se pelo seu próprio peso.

artigo publicado no JANEIRO em 19/11/2006