09/11/2006

MENTIRAS E IMPÉRIOS


Rodrigo Costa

É erro, pensar que a Comunicação Social tem por objectivo, em regra, discutir e aprofundar, descomprometidamente, todos os assuntos, com a verdade como ponto obrigatório de referência, porque o contexto de causalidade em que se vive retira o tempo e desordena, por interesses pessoais e de grupo, o posicionamento das matérias e das importâncias, muito embora também nós percebamos que lhe compete, apenas, fazer, tão-só, luz sobre os assuntos, porque a outras instâncias cabe extrair as ilações e produzir as consequências.

Porém, o Jornalista não é senhor do seu destino. Tem vida ou tem vida e tem família, e tem um salário para suportar tudo isso; quando a verdade é, muitas vezes, a coisa suja que é preciso esconder debaixo da carpete para que a casa pareça limpa, mesmo que todos ouçam e concordem que o mundo se tornou uma entulheira, e se diga e se ouça, outra vez, que a mistura de Oligarquia com Plutocracia seja o regime, sem palavra única --espero que me surja um neologismo designativo-- que governa, porque a Democracia é a democundrice, se pensarmos ser mais uma doença de que os povos pensam que padecem.

Parece haver receio, dos “profissionais das notícias”, de que as notícias, mais que a escrita, lhes escapem e proliferem. Receio traduzido pela preocupação de que tanta gente escreva, como se, ainda que a amadores, não assista também o direito de pensarem e dizerem asneiras. Qual é o medo? Que todos se apercebam das ruínas do império?... Da Liberdade, apregoada e fingida, sempre tem que sobrar alguma coisa para que os povos possam pensar serem livres. Democrata ou ditador, o poder morre sempre vítima dos seus venenos, e a palavra é a cicuta que, mais do que matar, flagela.

O caos é o investimento da Informação dos nossos dias. Associa-se-lhe, provoca-o e acolhe-o -–como o Instinto aconselha--, porque é na confusão que a manada se aterroriza e se dispersa, permitindo, aos predadores, isolar e sufocar as presas, muito embora, por vezes, o cansaço e as perdas sejam contra, como riscos de um jogo que, como qualquer outro, tem excepções à regra.

A necessidade de informar é o mote. As notícias são pouco mais ou menos fabricadas. A seguir ao aborto, virão outros assuntos -–como este sucedeu a outros--, sem que haja tempo nem conveniência para aprofundamentos.

A Casa Pia foi-se! A Comunicação exaltou-o e deixou-o nos estertores do êxtase, porque há notícias que não dão dinheiro: porque já cansam, perderam o crédito e não dão jeito -a luz é um obstáculo, porque é na escuridão que os ratos medram.


P.S.: Deixo, também aqui, a lembrança de quantos se não venderam, que sofreram e sofrem desavergonhadas consequências. Porque, como em qualquer classe, também existem jornalistas sérios.


artista plástico