26/09/2006

JORNALISMO RESPONSABILIDADE e CENSURA

Temos que evitar a todo o custo aquilo que diz Harold Pinter,dramaturgo e prémio nobel da literatura, “ há uma crescente cultura da supressão da verdade na sociedade actual"



JOAQUIM JORGE


Os leitores são cada vez mais exigentes e instruídos, tem que existir com o jornal uma relação de confiança e afectividade. No jornalismo moderno não chega a simples descrição dos factos ou a transcrição das declarações.É necessário uma abordagem multidisciplinar e plural.O jornalismo não pode ser “pé-de-microfone”,em que apenas se retransmite a informação fornecida por outrém,tendencioso,distorcido e preconcebido.
Os políticos não estão habituados a um jornalismo independente e agressivo. Mais liberdade de imprensa,pluralismo na informação e meios para estar onde a História está acontecer é salutar,porém há mais regras a ser violadas,sensacionalismo onde deveria haver informação rigorosa e espectáculo onde se deve fazer jornalismo.
Mais liberdade não significa que seja feito com responsabilidade, não se pode rodar em torno do acessório e se esqueça o mais importante. As novas tecnologias,a velocidade com que a informação é transmitida,não é contrabalançada com o distanciamento,em relação aos acontecimentos,frieza e objectividade.The New York Times, The Washington Post, El País,Le Monde,The Independente e La Republica estabeleceram padrões de exigência elevados,regras de comportamento mais apertados,isto é, subiram a fasquia. O OPJ tem normas éticas e deontológicas porque se norteia.
Mas uma coisa é certa o monopólio da informação,já não é só dos jornalistas, escapa-se –lhe das mãos com a internet,on-line,blogues,jornais gratuitos e com os novos jornalistas-cidadãos ( querem estar melhor informados). A ética do jornalismo e o lugar do jornalista na vida democrática está em questão.Já não se precisa dos “media” e dos jornalistas como antes.
Escândalos impensáveis abalaram instituições e figuras públicas.Choques terríveis, ocorreram entre jornalistas e políticos,o crescente desprestígio aos olhos da opinião pública dos políticos, começa também a ser acompanhada pela perda de credibilidade dos jornalistas.É mau para a Democracia.
Os Jornalistas não podem pensar ,que tem um papel heróico e que representam os defensores de todas as virtudes contra todos os males.Revelaram “casos” que teriam sido abafados,mas também deram largas às suas obsessões e ao seu poder realizando verdadeiros julgamentos de carácter sem equilíbrio e distanciamento.
A imprensa, em democracia deve contribuir para não calar o que é incómodo ou inoportuno,sendo um contrapeso ao poder instituído,mas não substitui esses poderes,sem escrúpulos funcionando como “4º poder”. Jean Marie Colombani diz que cada jornal deve defender a ética e deontologia,sob pena de perder a confiança dos seus leitores.
A ética e deontologia exige: imparcialidade;direito dos outros;direito ao bom nome; direito dos acusados.
O exercício do jornalismo exige: honestidade; lealdade; recusa de favores ( aceitar prendas superiores a 60€ e comunicar à hierarquia);conflito de interesses (um jornalista não deve pertencer a um partido e aceitar cargos); relação com as fontes sem ambiguidades;direito de resposta; cumprir o anonimato e o off- the –record ,etc
A responsabilidade de um jornalista passa por publicar tudo o que tenha interesse jornalístico ressalvando casos de ordem privada, cumprimento da Constituição ,lei da imprensa e as leis gerais.A única limitação ao dever de informar grosso modo será : pôr em causa a segurança de alguém ; perigo de vida ou represálias;sequestro; chantagem ; prejuízo do ponto de vista pessoal,profissional ou outro relevante.
O jornalista deve assinar os textos,não fazer promessas ( dizendo que volta ao assunto mais tarde) e não noticiar ameaças de bomba ou suicídios. Além desta responsabilidade existe a responsabilidade social em que os jornalistas :não são os donos das notícias;devem reconhecer e emendar os erros cometidos ( é mais credibilizante do que escondê-los debaixo do tapete);lealdade com o público;rigor na informação;respeito pelo princípio do contraditório.
Infelizmente a precariedade e baixos salários deterioram a qualidade jornalística,como “cães de guarda da sociedade”.
Mais recentemente o livro de Carrilho chama atenção para o poder opaco,impune que não é escrutinado, faz ainda referência ao estatuto dos jornalistas e ao registo de interesses.
Existe uma tentativa de domesticar os media com a taxa de regulação e a supervisão da E.R.C.. O Governo exerceu pressões sobre a direcção da Lusa para ocultar que nem todas as escolas tinham banda larga. Recordo o envelope 9 , os “cartoons” a nível internacional,e mais recentemente a citação do Papa. A censura paira no ar.
Temos que evitar a todo o custo aquilo que diz Harold Pinter,dramaturgo e prémio nobel da literatura “ há uma crescente cultura da supressão da verdade na sociedade actual”.
Os jornalistas devem ter como tarefas, combater a mentira e a corrupção.Examinar os políticos,os homens públicos honesta e imparcialmente, devendo investigar as suas actividades de modo a verificar se são dignos da confiança dos eleitores.Realçar e promover as qualidades humanas e não as noticias escaldantes e horríveis.A sua influência na sociedade é grande e devem assumir essa responsabilidade.



artigo publicado no OPJ em 24/09/2006