O temor, a apreensão, a inconstância, o controle, a suspeita, instalaram-se, passando a ideia que somos um país de privilegiados e malandros e que no governo estão os bons e os reformadores, é delirante
JOAQUIM JORGE
Este governo liderado por José Sócrates, quis impor a paridade e só tem duas mulheres como ministros. Ataca em todas as frentes, tendo como lema dividir para reinar: sector privado contra sector público; patrões contra trabalhadores; pais contra professores; médicos contra doentes; juizes contra advogados e acusadores reformados contra não reformados; jornalistas contra leitores; agricultores contra consumidores; policias contra cidadãos ; etc e vice-versa .
Tem uma atitude economicista, cega e autista, numa fuga para a frente, porque não tem muito tempo para urdir as suas “reformas”, que foram pensadas com a finalidade de quanto mais rápidas forem feitas melhor porque na última fase da legislatura já não é tão exequível .
Só porque se ganham eleições não se pode fazer tudo e mais alguma coisa. Aliás foi passado um cheque em branco a este primeiro ministro, que deve ter presente a Constituição onde se lê ser tarefa fundamental do Estado, promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e igualdade real entre portugueses, bem como a efectivação dos direitos económicos, sociais, etc.
Das poucas promessas que Sócrates fez , foi dizer que ia criar 150.000 novos empregos e por este andar vai é despedir 150.000 funcionários do Estado!. As sondagens colocam-no, ainda com uma vantagem confortável , todavia vai-se desvanecer, porque aos olhos dos portugueses, não existe uma alternativa credível, mas quando ela aparecer as coisas mudam de figura. É evidente que este governo tem tomado medidas correctas a muitos níveis: farmácias, medicamentos, agilizar a monstruosidade da burocracia estatal, despesa das autarquias, eficiência fiscal .Contudo não se podem fazer reformas de grande alcance sem envolvimento das pessoas. Nenhuma política consegue vencer contra os agentes intervenientes.
As condições de governabilidade são únicas com uma maioria clara mas que se tornou rapidamente baça com a derrota nas autárquicas. Mais tarde esta maioria tornou-se escura no erro clamoroso cometido nas presidenciais. Ficou negra com os dossiers das contas públicas. Escamotear esta realidade é tentar fazer de conta que nada se passou e que o tempo apagará da memória.Arrumou com quem lhe podia fazer frente, a nível interno: Carrilho; o clã Soares; e tentou com Manuel Alegre. A nível externo quem ousou ter opinião,foi posto de lado,o antigo ministro das Finanças, Campos e Cunha,o director da PJ,Santos Cabral.
Alguém tem de dizer basta! Porque arrumar com os portugueses, como a história nos ensinou, não é possível. O temor,a apreensão,a inconstância,o controle, a suspeita, instalaram-se, passando a ideia que somos um país de privilegiados e malandros e que no governo estão os bons e os reformadores, é delirante.
Este país é constituído por pessoas que votam por votar, são portugueses por ser, vivem por viver, trabalham por trabalhar, não se interessam pelo país, a população não está envolvida e não se interessa pela política e, digo eu, não quer ter a maçada de ir votar para novo governo pois num ano houve três eleições.
Mas este dogmatismo, não gostar do contraditório, insensibilidade, dureza, fazer ouvidos de marcador, política robotizada, vai trazer grandes dissabores aos socialistas, peritos em dizer sempre amém, com quem está no poder, num seguidismo cego e bajulante.
Eu não aceito poupar e fazer sacríficios, se o exemplo não vier de cima,diminua-se ao número de deputados, vereadores, deputados municipais e de freguesia, presidentes de junta, números de assessores, ministros e secretários de estado.Cultura exemplificativa e praticável, começando a poupar nos ministérios e nos tentáculos próximos do poder, só assim, mostrará rigor e terá crédito, senão este governo terá “guia de marcha”.
*Biólogo
jota.jota@sapo.pt
Escreve no JANEIRO, quinzenalmente, às segundas-feiras
