10/03/2006

«País Tabloide»




Ciclo de debates do Clube dos Pensadores arrancou terça-feira

O impulsionador do evento e fundador do clube, Joaquim Jorge, moderou o debate, lembrando que o objectivo primordial dos encontros que se realizarão até Junho é o de promover o pensamento livre, sem constrangimentos e preocupações do "politicamente correcto". Frisou, ainda, que no clube não há títulos académicos, «tão comuns no novo riquismo intelectual».
Vicente Jorge Silva, jornalista, fundador do jornal o "Público", ex-deputado, foi o primeiro convidado especial, falando sem "papas na língua" do tema "A Comunicação Social e os Políticos".

O fundador do jornal "Público" teceu várias considerações sobre o tema "A Comunicação Social e os Políticos", mostrando-se preocupado com o rumo que o país está a tomar no contexto das liberdades civis, particularmente de imprensa. Indo desde os Cartoons de Maomé até ao caso "Envelope 9", Vicente Jorge Silva lamentou a impossibilidade de se fazer um debate sem complexos, fora da esfera dos partidos ideológicos, a quem apelidou de «tribos fechadas nelas próprias, incapazes de ver no imediato». Apontou o dedo às instituições judiciais e políticas, mas também à comunicação social, que não resistiu à tentação do sensacionalismo impulsionado pela liberalização das televisões; «Os meios de comunicação social escrita aderiram à tabloidização das televisões para não perderem o pé. A Casa Pia pertence a esse ambiente. A própria justiça e política tornaram-se tabloides. O nome "Apito Dourado", por exemplo, parece inventado numa redacção de um jornal». O orador não perdoou os pecados da comunicação social; «Em Portugal, o tabloide, por mais independente que queira ser, tem sempre alguma dívida, algum agradecimento a fazer a quem está em cima». Nesta linha de ideias, Vicente Jorge Silva considerou que o contexto é cada vez menos propício ao exercício das liberdades civis; «Há pressão do poder político sobre o poder económico, que por sua vez influi no jornalismo», acrescentando mais à frente que «as liberdades são cada vez mais instrumentais e instrumentalizadas pelos Governos». A concluir fez o apelo para que a comunicação social não se deixe submeter «à mão que manipula na sombra».