
A democracia não sobrevive a menos que alguns de nós se envolvam, a menos que haja alguma massa crítica.
JOAQUIM JORGE
Sinal da vontade dos cidadãos em intervir na política nacional, devido ao fechamento dos partidos e em que não é respeitada a independência de pensamento, mostra o calcanhar- de- aquiles dos partidos. Muitas pessoas vêem hoje os partidos como a forma mais difícil de influenciar a política ,em que sentem não ter voz. Por outro lado tem medo de expressar os seus pontos de vista, sem manha, com espontaneidade, sem estar sujeito a condições, falar pela própria cabeça e não em função de uma circunstância, falar de uma forma “irresponsável” no melhor sentido da palavra, não é comum e quem o faz é entendido como um romântico e um idealista , porventura “louco”, que paga um preço na hierarquia partidária não chegando a lado algum, isto é, lugares de chefia.
O debate de ideias está ausente, ter um olhar diferente e crítico, ter uma ideia, raciocinar, reflectir ,não estar alheado, no fundo pensar. Sendo esta forma de pensar sem coacção, constrangimento e acanhamento de qualquer tipo, com autenticidade, independente, não comprometida, não monopolizada , espontânea, à vontade, fidedigna e verdadeira, um exercício complicado e tirando raras excepções difícil de levar a efeito.
A culpa desta situação é dos partidos políticos com o seu autismo partidário em que existe um alheamento do real com uma concentração mórbida das pessoas nas decisões do partido, em que não é respeitada a independência de pensamento. A crítica não deve ser entendida como um ataque pessoal, ou querer denegrir alguém. A vida não pode ser vista de uma forma monolítica .Os partidos estão ensimesmados. As pessoas estão acordar para uma nova forma de fazer política, estão a tentar inventar novas formas de fazer as coisas.
Além de movimentos cívicos, a sociedade civil está a procurar envolver-se com a criação de clubes de reflexão, surgiu no Porto, o Clube dos Pensadores e em Lisboa, o Clube Loja das Ideias, além das Noites à Direita. Mostra a necessidade de desenvolver formas de participação cívica a que os partidos não conseguem dar resposta, por não serem abertos e incapazes de mudanças positivas. É preciso que gastemos algum tempo a pensar, a participar, a votar e a ler o jornal. A democracia não sobrevive a menos que alguns de nós se envolvam, a menos que haja alguma massa crítica. É preocupante quando eleições internas dos partidos, a sua abstenção é mais de 50%, o candidato eleito é minoritário e por vezes único, foi o que aconteceu recentemente, nas eleições internas do PS e PSD.
Texto publicado no OPJ do dia 27/03/2006
