Mário Russo |
No próximo domingo o Brasil terá
um novo presidente, após campanha muito disputada envolvendo diversos
candidatos de quadrantes muito distintos. Emergiram para o segundo turno Jair
Bolsonaro e Fernando Hadadd, o primeiro do PSL, partido liberal de direita e o
segundo, candidato do PT, dito representante de Lula da Silva, preso por
corrupção comprovada em duas instâncias Judiciais e impedido de ser o candidato
desejado do partido, porque Hadadd não tem carisma e foi considerado o pior
Prefeito do Brasil, quando exerceu o cargo por um mandato na cidade de São
Paulo, graças à liderança de Lula, que plantou ali um poste. Jair Bolsonaro é
um deputado Federal há mais de 20 anos, capitão do exército reformado, de
ideias liberais ou mesmo ultra liberais, de direita, militante de um pequeno
partido, quase sem expressão no congresso nacional e com uma imprensa hostil.
Tenho assistido em Portugal a manifestações
de apoio a Hadadd e ao PT na imprensa, onde jornalistas e políticos da nossa
praça, lançam palpites irresponsáveis e manifestações de fé, sem conhecimento
da realidade brasileira e dos factos. Muitos apenas lendo uma imprensa
brasileira desonesta que retrata campanhas de desinformação grosseira,
aproveitadas por certas “tiradas” do candidato Bolsonaro, algumas com mais de
20 anos, agora requentadas para serviço de interesses partidários.
Devo manifestar desde já o porquê
de redigir este breve artigo. Em primeiro lugar porque me dá asco ler patranhas
sem sentido, falsas e desonestas de portugueses ainda com laivos de
colonialistas, pedindo até a intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa, como se o
Brasil fosse uma capitania hereditária. Também por considerar incrível que se
desrespeite o legítimo direito de um povo escolher quem melhor achar poder
resolver os seus graves problemas.
De facto, devido à minha
atividade universitária e profissional, tenho estado a viver no Brasil no
último ano, em contacto com colegas de Universidades e órgãos públicos
governamentais e pessoas no dia-a-dia.. Vivi naquele país cerca de 10 anos e
tenho diversas parcerias com universidades federais do Brasil que me têm levado
a este país todos os anos nos últimos 30 anos. Os meus filhos nasceram no
Brasil. Conheço o Brasil de Norte a Sul. Sem nenhuma pretensão, conheço o
Brasil melhor que a grande maioria dos brasileiros e, sobretudo, já conheço bem
os brasileiros. Sinto o clima em que se vive atualmente no Brasil e o que se
vivia ao longo dos últimos anos.
Fico completamente siderado com
afirmações gratuitas, desconhecedoras da realidade brasileira e dos próprios
candidatos, feitas por portugueses que se arrogam o direito de proferir
comentários políticos, desde o comentador da SIC Marques Mendes, que quando for
grande quer ser Presidente da Republica, imitando o percurso do nosso atual
Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, como se um raio caísse sobre a mesma
árvore duas vezes. Ou a boçal crónica do não menos boçal deputado do PS,
Francisco Assis, que insultou o candidato de direita, considerando-o de canalha.
Outros comentários, igualmente simplistas e ignorantes na matéria de facto são
o constante da nossa imprensa, com exceção de uma crónica de José Milhazes no
Observador que remete à reflexão mais cuidada.
Ora, eu também não conhecia quem
era Bolsonaro, a não ser o que a
imprensa veiculava e, naturalmente, porque era candidato à presidência da
republica, que entrou a matar ao comunicar a sua disponibilidade para o cargo,
apontando o dedo à corrupção generalizada na esfera política e empresarial do Brasil, incluindo a
defenestração sobre o atual presidente Michel Temer, acusando-o de corrupto e o
desejo de combater o crime organizado que tomou conta do Brasil a todos os
níveis.
Bolsonaro, com afirmações tão
contundentes e sem medo, muitas delas fora do espírito hipócrita do
“politicamente correto”, chamou a atenção do povo brasileiro e logo emergiu nas
sondagens como o preferido e começou a incomodar muita gente. O que li na
imprensa sobre Bolsonaro era até difícil acreditar no século XXI e no imediato,
fiquei contra essas ideias, designadamente: que Bolsonaro era contra as
mulheres, contra gays, a favor da tortura, querer privatizar todas as empresas
públicas, o Banco do Brasil e a Caixa Económica Federal, a favor do salário das
mulheres ser menor que o dos homens para as mesmas funções, distribuir armas
pela população, ser fascista e nazista etc. Mas de tanto exagero, decidi ler,
ouvir e ver entrevistas do referido candidato para me certificar se de facto
era assim tão absurdo. Comecei por perceber que a maioria do que era dito era
falso e retirado do contexto, eram mentiras, deturpações grosseiras e
manipuladas por uma imprensa tendenciosa e arrivista. Ouvi atentamente os
debates com todos os candidatos (antes do atentado) em que apontou o dedo aos
podres. Ouvi entrevistas na rádio e redes sociais e ficou claro para mim que
havia demasiadas falsidades e questionei-me porque havia tanto medo de Bolsonaro?
Com efeito, o Brasil, com
candidatos como Alkemin, Ciro Gomes, Meireles, sobretudo estes, como é que
surge um furacão Bolsonaro? A resposta é simples: os Brasileiros estão cansados
da governação do PT e de políticos corruptos, ligados a esquemas que levaram ao
maior roubo que há história no Brasil. Desde o mensalão, a lavajato e o
petrolão a jorrar biliões de dólares para as contas do PT, PMDB (agora MDB),
PSDB, DEM, e outros partidos e políticos, hoje a contas
com a justiça, que destruiu o potencial económico do país e o atirou para a
mais prolongada crise da sua história. O PT está no governo desde há 16 anos (o
atual governo Temer é o complemento do governo Dilma) e conseguiu destruir a
economia do Brasil. O desemprego é galopante, com mais de 13 milhões sem
emprego, mais de 30 milhões em sub emprego. Destruição da Petrobrás, que era a
4ª maior do mundo, e transformar numa empresa sem dimensão, entregando os seus
destinos em companheiros do sindicato, impreparados e incompetentes numa área
de elevadíssima especialização. Os criminosos estão organizados e comandam a
vida das pessoas nas grandes cidades, sem medo das entidades públicas. Matam
indiscriminadamente cidadãos e policias. Um descontrolo total. Estas são as
razões do aparecimento de um candidato que ainda não conseguiram acusar de
corrupção, ao contrário dos restantes que podem mesmo vir a fazer companhia a
Lula da Silva na cadeia.
Não houve grande debate a sério
sobre políticas entre os candidatos. A maioria dos candidatos apenas fez
promessas incumpríveis, como jorrar empregos ou como Ciro, populista demagogo,
que afiançou “zerar” as dívidas dos 63 milhões de brasileiros com nome sujo no
SERASA (entidade que regista as dívidas dos consumidores para efeito de
avaliação de risco de empréstimos financeiros). Só promessas de facilitismos,
sem dizer de onde virá o dinheiro. Bolsonro diz ser propósito levar adiante a
lavajato para moralizar o país, não fazer nomeações políticas para as empresas
estatais, que têm sido um cabide de empregos de incompetentes políticos (job
for de boys). Acabar com centenas de empresas públicas criadas pelo PT e que
não fazem sentido num país sério e moderno, porque eram agências do compadrio e
da angariação e distribuição de propinas.
O candidato pretende levar a cabo
um verdadeiro combate à corrupção e ao crime organizado. Limpar a podridão da
banda podre das forças de segurança. Equipar e treinar as polícias. Reforçar
programas como “bolsa família”, combatendo as fraudes existentes que engordam
as cotas de milhares de políticos e empresários inescrupulosos por todo o país.
Acabar com a impunidade dos grandes devedores do BNDES, como a Globo, Record e
outros. Acabar com a farra dos dinheiros públicos do BNDES para financiar os
companheiros do PT com obras na Venezuela, Bolívia, Nicarágua, Peru, Angola,
entre outros. Quer acabar com a ideologia do pensamento de Paulo Freire na
educação que tem levado à superficialização dos conhecimentos dos estudantes e
aos piores resultados nas avaliações como o Pisa. Pretende acabar com a vergonhosa
ideologia de género que o PT pretendeu impor na educação e alguns estados
governados por governadores do PT implementaram. Quer que o ensino básico e
secundário público seja de qualidade e não sucateado como hoje acontece para
benefício do ensino particular.
Vai proibir que dinheiros do
erário público sejam desbaratados com organizações que vivem da “teta” do
orçamento, como o MST, sindicatos de trabalhadores, paradas do orgulho gay, que
derretem biliões de reais por ano sem benefício para a sociedade. Quer acabar
com leis como a Ruanet, que passará a apoiar apenas artistas em início de
carreira e não consagrados como Chico, Caetano e outros companheiros do PT.
Quer moralizar a coisa pública e adotar a meritocracia. Qual o mal?
O candidato evidenciou humildade em
debates ao confessar que não era dono da verdade e que muitos assuntos seriam
decididos por uma equipa e não por uma única pessoa, que ele ia ouvir as
pessoas e os seus anseios, mas ele seria sempre o garante de que o objetivo é
conseguir resultados em prol da população. Irá cobrar resultados aos seus
ministros.
Com efeito, algumas áreas podem vir
a trazer problemas de conciliação, como a ideia de juntar o ministério da
Agricultura com o Ambiente, por exemplo. Outra questão polémica é a das armas à
população, em que Bolsonaro afirmou que as famílias que o desejarem, sob
condições especiais e formação, disporem de uma arma em casa para defesa
pessoal. Nada de distribuição à população, que seria um desastre, como
pretenderam as campanhas de desinformação fazer crer. Pessoalmente tenho
dúvidas que possa ser uma boa estratégia, mas também não sei se será melhor
haver proibição, porque hoje os bandidos estão bem armados e entram à vontade
para assaltar casas porque sabem que as pessoas estão desarmadas e impreparadas
para o uso desse equipamento como defesa.
O candidato tem manifestado
opiniões de forma clara e sem hipocrisias. Todos sabem o que pensa e o que
pretende fazer, caso eleito. Podemos não concordar, como é evidente e natural
em qualquer sociedade, até porque, como dizia Nelson Rodrigues, a “unanimidade
é burra”. Não é como o outro candidato,
agnóstico convicto e comunista e a sua candidata a vice, comunista do PC do B,
que foram a uma missa e comungaram, com alarde de fariseus, apenas para iludir
o eleitorado.
Se Bolsonaro for eleito, tem uma
tarefa enorme pela frente. Terá de cumprir o que prometeu, sem vacilar e
apresentar resultados o mais rápido possível, porque a cobrança vai ser
terrível. Terá de não nomear clientelas políticas, fazendo do poder uma
distribuição de favores como tem acontecido até agora, ao abrigo dos custos do
erário público e sim pelo mérito. Terá de pugnar pela estabilização económica,
potenciando a criação de riqueza e emprego. Terá de ser inflexível no combate
acérrimo a todo o tipo de corrupção e do crime organizado que campeia solto
pelo país, onde morrem mais de 60 mil pessoas de modo violento por ano, mantendo
um povo encurralado. Terá de ter mão em muitos dos seus apoiantes e pôr ordem
no “galinheiro”, para evitar confusão ou usurpação de funções.
É por isso que o povo, o mesmo
povo que veio às ruas e forçou os militares na época da presidência de João
Figueiredo, a devolver o poder aos civis, nas famosas diretas já, com Tancredo
Neves e Brizola, que hoje tem a mesma legitimidade para votar de forma livre
num candidato sem partido, sem imprensa, sem orçamento para campanhas
faustosas, contra tudo e contra todos, que é Jair Bolsonaro. Mais de 50 milhões
a votar neste candidato não pode ser desconsiderado, como pretende uma certa
imprensa, nomeadamente portuguesa e estrangeira que é apologista ao “bom selvagem” e do very tipical, porque “pimenta nos olhos dos outros é refresco”.
Quem vive numa sociedade acuada e
amordaçada, como a atual no Brasil, vendo políticos ligados ao poder nos
últimos 16 anos locupletarem-se com camiões de dinheiro, caixas e malas de
dinheiro do povo e ver familiares morrerem nas mãos dos bandidos e sentir-se
impotente. Povo que está farto de “Gilmares Mendes” e de outros bandidos que colaboram
oficialmente para que a bandidagem (políticos corruptos e do crime organizado) continue
impune, não quer mais o PT.
São todos os implicados na
roubalheira e todos os que pretendem implantar a vagabundagem, a desordem e a
destruição dos valores que fundaram os modernos estados, que não querem a eleição
de Bolsonaro, nem de ninguém com idêntica determinação e tudo fazem para
conseguir o seu intento, mesmo com métodos desonestos. Esses estão com pavor e
lançam fake news a demonizar o candidato oponente.
Acima de tudo, diante duma
escolha como esta, não pode haver dúvidas. Não emprenhem pelos ouvidos.
Aprofundem a autenticidade das informações, porque muita imprensa está a fazer
o jogo da corrupção que lhe convém. Quanto à maioria dos comentadores
portugueses, é melhor ignorar o que dizem, de tão patético.