18/01/2018

As Duas Grandes Contradições da Atualidade na Definição de Identidade



     
     
Leonardo Camargo Ferreira 
Não poderei começar este ensaio sem questionar-me, e alertar os leitores para o mesmo questionamento, do seguinte: o que é ser-se algo? O que é ser-se alguém? Só estas duas perguntas exigem uma reflexão muito profunda, como se pretendessem uma resposta imediata e perpétua. Seria uma proeza, um mistério se alguém conseguisse fornecer uma resposta mais rápida que o tempo a questões construídas ao longo das vivências. Mas mais do que isso: estaria a ser falso, principalmente consigo mesmo .

Mas o meu propósito aqui não é iniciar um debate sobre o que é ou não é a identidade de cada um… Não sem referir um contexto, não sem enumerar um conjunto de condições por mim selecionadas que são específicas e indispensáveis à edificação e à manipulação do “eu”: a atualidade, o pleno século XXI. Porque escolhi este período da história da humanidade? Muito simples: é o tempo em que eu estou vivo, e é um tempo muito estranho. E, claro está, tudo o que se revela estranho tem muito material para ser trabalhado.
Ser-se atualmente é difícil . Porém, tenho a certeza de que somos sempre um fruto do consenso social, e isso vê-se nas capacidades exigidas pela sociedade para o mercado das profissões. Todos pretendem que sejamos alguém de um só trabalho, uma alma de um só sucesso. Médico, engenheiro, matemático, advogado: a sociedade diz-nos para termos uma só profissão e descobrirmos um absoluto contentamento com ela. Simultaneamente, esta mesma sociedade alerta-nos para a sua própria mudança, exigindo que nos façamos ao progresso e andemos ao mesmo passo que ele. Então, as pessoas dizem umas às outras que é importante termos amplos conhecimentos, distintas sabedorias universais e totais. Portanto: seria ótimo se fôssemos um tudo e, ao mesmo tempo, um mero grupo de características pretendidas.
Quem diria… Num século XXI tão avançado, com tantos recursos ao nosso dispor, quem diria que encontraríamos um paradoxo tão basilar na nossa definição – a nossa não-definição .

Mas o meu propósito aqui não é iniciar um debate sobre o que é ou não é a identidade de cada um… Não sem referir um contexto, não sem enumerar um conjunto de condições por mim selecionadas que são específicas e indispensáveis à edificação e à manipulação do “eu”: a atualidade, o pleno século XXI. Porque escolhi este período da história da humanidade? Muito simples: é o tempo em que eu estou vivo, e é um tempo muito estranho. E, claro está, tudo o que se revela estranho tem muito material para ser trabalhado.
Ser-se atualmente é difícil . Porém, tenho a certeza de que somos sempre um fruto do consenso social, e isso vê-se nas capacidades exigidas pela sociedade para o mercado das profissões. Todos pretendem que sejamos alguém de um só trabalho, uma alma de um só sucesso. Médico, engenheiro, matemático, advogado: a sociedade diz-nos para termos uma só profissão e descobrirmos um absoluto contentamento com ela. Simultaneamente, esta mesma sociedade alerta-nos para a sua própria mudança, exigindo que nos façamos ao progresso e andemos ao mesmo passo que ele. Então, as pessoas dizem umas às outras que é importante termos amplos conhecimentos, distintas sabedorias universais e totais. Portanto: seria ótimo se fôssemos um tudo e, ao mesmo tempo, um mero grupo de características pretendidas.
Quem diria… Num século XXI tão avançado, com tantos recursos ao nosso dispor, quem diria que encontraríamos um paradoxo tão basilar na nossa definição – a nossa não-definição .
(...)
       Apesar de tudo, o mecanismo de regularidade social por necessidade consegue controlar a excitação destas contradições, isto é, quando as mesmas começam a ultrapassar um estado considerado razoável. A parte mais sacrificada nestes processos é a da construção do “eu”, daquilo que somos. Gradualmente, temos de aprender a lidar com as velozes mudanças de perspetivas sociais. O que é aceitável hoje poderá não o ser amanhã e é essencial apaziguar este choque proveniente das rápidas transformações da coletividade, permitindo uma certa autoconservação de cada um.
Foi pelas discussões que todo este tema levanta e pode levantar que a minha escolha surgiu. O importante deverá ser, no meu entender, concluir a leitura deste ensaio com a sensação de que a identidade é objeto de um debate que se torna relevante ter: um debate que nos move para a descoberta contínua de como organizar a própria essência.