Leonardo Camargo Ferreira |
Mas o meu propósito aqui não é iniciar um debate
sobre o que é ou não é a identidade de cada um… Não sem referir um contexto,
não sem enumerar um conjunto de condições por mim selecionadas que são
específicas e indispensáveis à edificação e à manipulação do “eu”: a
atualidade, o pleno século XXI. Porque escolhi este período da história da
humanidade? Muito simples: é o tempo em que eu estou vivo, e é um tempo muito
estranho. E, claro está, tudo o que se revela estranho tem muito material para
ser trabalhado.
Ser-se atualmente é difícil . Porém, tenho a
certeza de que somos sempre um fruto do consenso social, e isso vê-se nas
capacidades exigidas pela sociedade para o mercado das profissões. Todos
pretendem que sejamos alguém de um só trabalho, uma alma de um só sucesso.
Médico, engenheiro, matemático, advogado: a sociedade diz-nos para termos uma
só profissão e descobrirmos um absoluto contentamento com ela. Simultaneamente,
esta mesma sociedade alerta-nos para a sua própria mudança, exigindo que nos
façamos ao progresso e andemos ao mesmo passo que ele. Então, as pessoas dizem
umas às outras que é importante termos amplos conhecimentos, distintas
sabedorias universais e totais. Portanto: seria ótimo se fôssemos um tudo e, ao
mesmo tempo, um mero grupo de características pretendidas.
Quem diria… Num século XXI tão avançado, com tantos
recursos ao nosso dispor, quem diria que encontraríamos um paradoxo tão basilar
na nossa definição – a nossa não-definição .
Mas o meu propósito aqui não é iniciar um debate
sobre o que é ou não é a identidade de cada um… Não sem referir um contexto,
não sem enumerar um conjunto de condições por mim selecionadas que são
específicas e indispensáveis à edificação e à manipulação do “eu”: a
atualidade, o pleno século XXI. Porque escolhi este período da história da
humanidade? Muito simples: é o tempo em que eu estou vivo, e é um tempo muito
estranho. E, claro está, tudo o que se revela estranho tem muito material para
ser trabalhado.
Ser-se atualmente é difícil . Porém, tenho a
certeza de que somos sempre um fruto do consenso social, e isso vê-se nas
capacidades exigidas pela sociedade para o mercado das profissões. Todos
pretendem que sejamos alguém de um só trabalho, uma alma de um só sucesso.
Médico, engenheiro, matemático, advogado: a sociedade diz-nos para termos uma
só profissão e descobrirmos um absoluto contentamento com ela. Simultaneamente,
esta mesma sociedade alerta-nos para a sua própria mudança, exigindo que nos
façamos ao progresso e andemos ao mesmo passo que ele. Então, as pessoas dizem
umas às outras que é importante termos amplos conhecimentos, distintas
sabedorias universais e totais. Portanto: seria ótimo se fôssemos um tudo e, ao
mesmo tempo, um mero grupo de características pretendidas.
Quem diria… Num século
XXI tão avançado, com tantos recursos ao nosso dispor, quem diria que
encontraríamos um paradoxo tão basilar na nossa definição – a nossa
não-definição .
(...)
(...)
Apesar de tudo, o mecanismo
de regularidade social por necessidade consegue controlar a excitação destas
contradições, isto é, quando as mesmas começam a ultrapassar um estado
considerado razoável. A parte mais sacrificada nestes processos é a da
construção do “eu”, daquilo que somos. Gradualmente, temos de aprender a lidar
com as velozes mudanças de perspetivas sociais. O que é aceitável hoje poderá
não o ser amanhã e é essencial apaziguar este choque proveniente das rápidas
transformações da coletividade, permitindo uma certa autoconservação de cada
um.
Foi pelas discussões que todo este tema levanta
e pode levantar que a minha escolha surgiu. O importante deverá ser, no meu
entender, concluir a leitura deste ensaio com a sensação de que a identidade é
objeto de um debate que se torna relevante ter: um debate que nos move para a
descoberta contínua de como organizar a própria essência.