Joaquim Murale |
As expectativas de um povo perante um Estado que lhe suga
impostos até ao tutano são mais do que legítimas. Mas, apesar dessa
legitimidade intrínseca, que verdadeiras expectativas pode um povo ancorar num
Estado que, tal como a nossa História de nove séculos o demonstra, foi
concebido e montado em função dos interesses das classes dirigentes?
Verdadeiramente, o Estado que conhecemos existe para facilitar a corrupção
entre os poderosos e as suas clientelas e reprimir e extorquir o povo. Como
poderia servi-lo?
Choca-nos saber que as muitas denúncias sobre a gestão
danosa de dinheiros públicos por parte de responsáveis da Associação
“Raríssimas”, feitas a diversas instituições do Estado português, caíram em
“saco roto” e que só se tornaram objecto de investigação oficial depois de
terem sido divulgadas por órgãos de comunicação social.
Choca-nos saber que os tribunais portugueses não agiram
em favor das mães que perderam os seus filhos nos processos de adopção forjados
pela IURD, nos quais, segundo a investigação televisiva que denunciou o caso,
as crianças foram liminarmente roubadas às suas mães, todas elas mulheres
pobres e desprotegidas.
E continuaremos a chocar-nos com os contornos destas e de
outras situações sempre que os fracos são expostos ao desígnio dos poderosos.
Os Estados são aparelhos através dos quais uma classe exerce o seu poder sobre
outras. Por isso, e apesar da actual coligação de forças no parlamento
português proporcionar um período de aparente bonomia, o Estado que conhecemos
continuará a falhar, por omissão ou demora. O Estado social que desejamos,
prestador de justiça, de protecção e de cuidados para todos, nunca existirá,
independentemente das boas intenções e da competência de muitos que trabalham
na sua estrutura.
Assim, aqueles que ainda acreditam que o Estado pode ser
outra coisa, melhor, do que aquilo que tem sido ao longo da nossa História,
estão condenados a sofrer mais desenganos. A solução? Mudar este tipo de mundo!
Matar o capitalismo, gerador de injustiças! Lutar por um mundo humano, que
privilegie o "ser" ao "ter", onde todos sejamos iguais face
às oportunidades da vida!