Mário Russo |
Vivemos um mundo conturbado e incerto a nível da segurança
com reflexos na economia mundial. Assistimos ao aparecimento de ópios
concentrados em grupos radicais, de que emerge o ISIS como uma ameaça global a
ter em conta, após o ensaio Al-Qaeda evidenciar que as intervenções militares
do ocidente em países muçulmanos foi o rastilho que faltava.
Milhões de refugiados fogem de guerras da intolerância e
demandam países considerados civilizados e mais seguros no Ocidente, sobretudo
para uma Europa que não consegue sair da letargia económica devido a políticas
restritivas e de austeridade, sem os resultados económicos que os seus
defensores vêm apregoando.
O desemprego tende a ser maior com a progressiva introdução
da robotização, uso de drones e outras tecnologias que a internet das coisas
vai acelerar, lançando maiores desafios aos governos que não sabem como lidar
com uma globalização e economia disruptiva e fora do tradicional controlo.
Diante de tamanhas incertezas,
o que mais se precisaria era de concertação entre as nações do mundo para
alinhar políticas que estancassem o medo do futuro instalado na sociedade. Mas
a atuação do novo Presidente dos EUA, Donald Trump, está a precipitar tudo e a
agudizar os problemas já existentes.
Donald Trump, de facto está a cumprir o que prometeu na sua polémica
campanha, sendo o que normalmente os eleitores quem dos políticos: que é cumprir
as promessas eleitorais. Mas o caso de Trump é particular por duas ordens de
ideias: a primeira por ser a maior potência do Planeta, cujas responsabilidades
históricas no mundo têm sido evidentes, sobretudo depois da II Grande Guerra
mundial, como farol da democracia, da liberdade e da economia que são
incompatíveis com o protecionismo e isolamento da maior potência do Globo.
Em segundo lugar, porque as ideias do candidato sendo
polémicas, verdadeiras bravatas de fanfarrão, não podem deixar de ser
confrontadas com as consequências da sua aplicação e a liberdade dos outros
países. Trump tem evidenciado ser um ignorante, boçal, racista, machista,
mal-educado e ditador. Como “menino” mimado e birrento acha que pode fazer tudo
o que quer e acaba de incendiar mato cheio de lenha e brincar com o vespeiro,
sem medir as consequências não só internas, como externas.
De facto, Trump abriu a caixa de Pandora no que toca à
segurança mundial. As medidas anunciadas são odiosos à luz da sensibilidade do
presente e os resultados serão certamente o contrário do que pensa. Em pleno
século XXI não é justificável adicionar mais muros aos existentes, físicos e
imaginários. A tolerância, fraternidade, solidariedade, amizade são valores conquistados
com sangue, suor e lágrimas há mais de duzentos anos. Trump está a contribuir
para que os povos odeiem a América (e o próprio ocidente), mais do que já
acontece, cujas consequências são imprevisíveis.
Um empresário bem-sucedido, sem experiência política poderia
ser presidente da América, mas teria de ter bom senso. Não é o que acontece com
Trump, que se comporta como qualquer ditador de uma republiqueta africana ou sulamericana,
mandando em todos os que o rodeiam a toque de chibatadas como um caudilho ou
coronel do nordeste brasileiro. Nota-se que se rodeou de gente sem escrúpulos,
boçais, mentirosos, racistas e de extrema-direita que o bajulam, para dar corpo
às suas ideias perversas.
Não há uma única medida que tomou que faça sentido a não ser
para incendiar o mundo e o tornar cada vez mais um lugar perigoso para se
viver. Eu não quereria viver em nenhuma das suas Trump Towers espalhadas pelo
mundo, verdadeiros alvos de extremistas. Além de não serem medidas que afetam a
circulação de pessoas de alguns dos países visados, afetarão no futuro o
Planeta com a sua desregulamentação total, deixando ao livre arbítrio dos
industriais e do mundo económico e financeiro traçar as suas regras, à boa moda
dos cow-boys do faroeste americano.
Com efeito, ao negar as alterações climáticas, como qualquer
pigmeu em África negará a ida de homens à Lua, Donald Trump nega a evidência
científica e mata o acordo de Paris, porque os EUA são o maior emissor de
poluentes para o ambiente, cujo prejuízo não fica confinado ao seu país.
Estudos com radioisótopos rastrearam o fluxo de poluentes na atmosfera que
evidencia cientificamente o seu trajeto à volta da Terra, afetando os seus
habitantes de forma indistinta.
Permitir a exploração desenfreada dos combustíveis fósseis
sem regras, assim como a liberalização das emissões industriais para tornar
mais barata a produção industrial americana é um mau caminho. Na frente legal, a
proibição da Agência Americana do Ambiente e das autoridades de Ambiente Estaduais
de emitirem estudos de impacto ambiental sem a sua aprovação é digna de
qualquer ditadura de pacotilha e um dos maiores retrocessos civilizacionais e
incompreensível na América. Um mau exemplo.
Trump está a fazer o que o Aiatola Khomeini fez quando
chegou ao Irão após a queda do Xá Reza Pahlavi, que retrocedeu leis até ao
século XIII. Trump retrocedeu ao início do século IX, em que não se conhecia o
efeito no ambiente causado pelas emissões poluentes e antes do século XVIII, em
que se deu a abolição da escravatura.
De facto Trump é um perigo à solta, um verdadeiro Mamute
numa loja de porcelana. Não bastava termos os malucos a governar a Venezuela, a Coreia do Norte, a Síria e a
Rússia, para o mundo já ser perigoso, temos agora um louco à solta na Casa
Branca que é mais letal que todos os outros juntos.