29/01/2017

CPI da Caixa Geral de Depósitos: quem os ex-presidentes querem defender?




Mário Russo
A CGD é uma instituição bancária em que os portugueses confiavam cegamente. Mas a sua gestão ao longo das últimas décadas foi um desastre total com boys dos partidos a usarem a instituição de forma vergonhosa. Neste momento precisa de injeção de dinheiros públicos para se manter à tona.
As safadezas foram tantas que o Parlamento Português resolveu instaurar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para averiguar as responsabilidades das administrações passadas.
Sendo um banco público exige-se transparência nas contas, mas pelos vistos não é o que pensam os novos inquilinos do poder na CGD. Com efeito, os deputados da CPI solicitaram a lista dos maiores empréstimos concedidos, valores, nomes, prazos e garantias dadas para suportar tais empréstimos. Isto acontece porque a CGD apresenta imparidades (eufemismo para calote) de um valor semelhante à injeção com dinheiros públicos. Pelo que será da mais elementar justiça saber o porquê da colossal dívida.
O Tribunal deu luz verde para tal, pois não fere os regulamentos, como seria de esperar numa situação deste tipo, ou então o Parlamento não servirá para nada. No entanto, os Dirigentes da CGD negaram-se a fazê-lo. Ainda não houve reação dos deputados a este insólito comportamento, com desculpas inacreditáveis, como se fosse mais importante preservar os nomes dos caloteiros do que o interesse dos portugueses que vão ficar com uma dívida que terão de pagar. Ou então o caso é eese mesmo, é preciso preservar os amigalhaços que foram buscar paletes de dinheiro público e não vão pagar.
Os ex-presidentes da CGD (Faria de Oliveira e Carlos Santos) alegaram que o problema da CGD foi consequência da crise internacional. Eles não tiveram nenhuma responsabilidade nos créditos concedidos que rapidamente se transformaram em imparidades. Desaparecem mais de 2,7 mil milhões sem deixar rasto e estes senhores não tiveram responsabilidades, como se fossemos todos bobos.
Financiaram a compra de ações do BCP, que já se sabia que eram fraudes, mas acham que foi tudo realizado como os manuais descrevem (deve ser o manual do Al Capone).
A primeira reação que se tem diante de tamanhos disparates é chamar os autores de “burros”, mas isso é inocência. Gente daquela não faz sem uma segunda intenção clara. Foi um fartar vilanagem que agora vem a lume. 
A pergunta que se impõe é a mesma sobre a falência do sistema bancário Português: onde estava, o que fazia e para que serve o supervisor que não conseguiu prever nada, evitar nada, controlar nada?
O BdP em Portugal não passa de uma instituição fantoche. Por outro lado, a Justiça Portuguesa não ajuda a moralizar porque é conivente com o fartar vilanagem das últimas décadas: É uma justiça do acessório. Os juízes preocupam-se mais com o acessório que do essencial. Justiça que é apenas célere a prender esfomeados que tenham roubado comida em supermercados. Os crimes de colarinho branco ficam todas impunes porque os nossos juízes preferem nem se debruçar sobre a complexidade dos processos, por ignorância, comodismo ou por já terem sido corrompidos pelo poder financeiro.

Uma vez mais a culpa vai morrer solteira no caso da CGD. Na melhor das hipóteses vai ser preso o porteiro, não importando o motivo.