Mário Russo |
A CGD é uma instituição bancária
em que os portugueses confiavam cegamente. Mas a sua gestão ao longo das
últimas décadas foi um desastre total com boys dos partidos a usarem a
instituição de forma vergonhosa. Neste momento precisa de injeção de dinheiros públicos
para se manter à tona.
As safadezas foram tantas que o
Parlamento Português resolveu instaurar uma CPI (Comissão Parlamentar de
Inquérito) para averiguar as responsabilidades das administrações passadas.
Sendo um banco público exige-se
transparência nas contas, mas pelos vistos não é o que pensam os novos
inquilinos do poder na CGD. Com efeito, os deputados da CPI solicitaram a lista
dos maiores empréstimos concedidos, valores, nomes, prazos e garantias dadas
para suportar tais empréstimos. Isto acontece porque a CGD apresenta
imparidades (eufemismo para calote) de um valor semelhante à injeção com
dinheiros públicos. Pelo que será da mais elementar justiça saber o porquê da
colossal dívida.
O Tribunal deu luz verde para
tal, pois não fere os regulamentos, como seria de esperar numa situação deste
tipo, ou então o Parlamento não servirá para nada. No entanto, os Dirigentes da
CGD negaram-se a fazê-lo. Ainda não houve reação dos deputados a este insólito
comportamento, com desculpas inacreditáveis, como se fosse mais importante
preservar os nomes dos caloteiros do que o interesse dos portugueses que vão
ficar com uma dívida que terão de pagar. Ou então o caso é eese mesmo, é
preciso preservar os amigalhaços que foram buscar paletes de dinheiro público e
não vão pagar.
Os ex-presidentes da CGD (Faria
de Oliveira e Carlos Santos) alegaram que o problema da CGD foi consequência da
crise internacional. Eles não tiveram nenhuma responsabilidade nos créditos
concedidos que rapidamente se transformaram em imparidades. Desaparecem mais de
2,7 mil milhões sem deixar rasto e estes senhores não tiveram
responsabilidades, como se fossemos todos bobos.
Financiaram a compra de ações do
BCP, que já se sabia que eram fraudes, mas acham que foi tudo realizado como os
manuais descrevem (deve ser o manual do Al Capone).
A primeira reação que se tem
diante de tamanhos disparates é chamar os autores de “burros”, mas isso é
inocência. Gente daquela não faz sem uma segunda intenção clara. Foi um fartar
vilanagem que agora vem a lume.
A pergunta que se impõe é a mesma
sobre a falência do sistema bancário Português: onde estava, o que fazia e para
que serve o supervisor que não conseguiu prever nada, evitar nada, controlar
nada?
O BdP em Portugal não passa de
uma instituição fantoche. Por outro lado, a Justiça Portuguesa não ajuda a
moralizar porque é conivente com o fartar vilanagem das últimas décadas: É uma
justiça do acessório. Os juízes preocupam-se mais com o acessório que do
essencial. Justiça que é apenas célere a prender esfomeados que tenham roubado comida
em supermercados. Os crimes de colarinho branco ficam todas impunes porque os
nossos juízes preferem nem se debruçar sobre a complexidade dos processos, por
ignorância, comodismo ou por já terem sido corrompidos pelo poder financeiro.
Uma vez mais a culpa vai morrer
solteira no caso da CGD. Na melhor das hipóteses vai ser preso o porteiro, não
importando o motivo.