Mário Russo |
A minha análise sobre estas eleições não coincide com a
corrente de pensamento que tenho lido, a não ser num aspeto: se alguém no
início deste ano dissesse que a coligação governamental iria ganhar as
eleições, estaria louco. Quanto ao resto tenho uma leitura diversa, que é
semelhante à previsão que fiz há bastante tempo e aqui deixei expressa neste
espaço de opinião tão bem conduzida por Joaquim Jorge.
De facto, escrevi (23 de Março) que se estava a formar uma tempestade
perfeita para derrubar António Costa ( AC) e aconteceu. Arroguei-me o direito de
aconselhar algumas coisas a AC para evitar a dita tempestade. Claro que AC tem
os seus conselheiros e dispensou a minha modesta “consultoria” de borla. E
perdeu, porque os seus conselheiros mostraram ser mesmo medíocres e imberbes.
Não conhecem o país, nem o povo português. AC não afastou Socráticos odiosos,
nem Seguristas como Brilhante Dias (brilhante não sei em quê), que teimou
sempre em ser um verdadeiro assassino do líder do seu partido. Por outro lado,
ter amigas como Maria de Belém, AC não precisa de ter inimigos. Foram
demasiados tiros nos pés.
Os ressabiados Seguristas nunca puxaram para o mesmo lado. A
derrota de AC foi uma vitória para eles. Porém, comparar a situação em que AC
se candidatou a líder do PS, quando o Governo estava na pior fase de
popularidade (altamente negativa) e que A J Seguro estava quase empatado com o
PSD/CDS e a atual, em que a tal tempestade se formava, com indicadores
macroeconómicos favoráveis, juros baixos, petróleo baixíssimo, Comissão
Europeia a intrometer-se na campanha, etc., é mera coincidência. Mais ainda
quando foram os Seguristas que minaram o terreno do PS, que está esfrangalhado
e a caminho da Pasokização.
Duvido que AC tenha condições de continuar, porque será
mordido nas canelas todos os dias pela matilha dos herdeiros.
Os vampiros puseram-se já na mesa do repasto para verter o
sangue de AC, como hienas famintas e insalivadas, capitaneadas por um tal
Beleza, mais um jotinha à espera de um lugar.
Diante desta desgraça, a coligação venceu, mesmo tendo
perdido mais de 12% dos votos em relação à última eleição e não atingido a
maioria. Não vale a pena iludir a questão. O povo pensou o seguinte: o PS (o do
Sócrates, mas foi o PS) é que contribuiu para o descalabro das contas. O atual
Governo teve de arcar com um fardo pesado e o odioso do ónus de aplicar um
programa indigesto. Agora que há sinais de melhoria, embora ténues, é melhor
dar o benefício da dúvida, porque o PS é um saco de gatos, sem credibilidade,
desorganizado, “facilitista”.
Mas como o povo está de mal com este governo, pois ninguém
esquece o gozo de PPC em arrochar o povo com a brutal carga de impostos e
sempre a sorrir, não lhe deu a maioria, para que se entenda e sobretudo, para
não ter a porta aberta para fazer mais misérias.
Cavaco Silva vem agora dizer que os partidos devem
entender-se, tal como países nórdicos o fazem. Só que Cavaco está mais
desacreditado que pau de galinheiro, e ninguém o leva a sério, e por outro lado,
não somos os civilizados do norte, mas uns incultos e boçais mediterrânicos.
Diante deste quadro, os vencedores destas eleições, à cabeça, foram PPC e Portas e o seu aliado Bloco de Esquerda, que se fartou de
bater no PS, como gato em bofe.