Daniel Braga |
Mais um acto eleitoral em Portugal, mais uma vitória da
democracia e da atitude cívica, demonstração de maturidade política e de
responsabilidade por parte dos agentes políticos e dos eleitores portugueses. Os
que foram e os que não foram votar. Votar é um acto cívico de enorme
responsabilidade, revelador da forma como todos os atores se envolvem e
intervêm na escolha de quem querem nos destinos da governação. Fizeram-no em
inteira liberdade, como é norma de uma sociedade livre e democrática. E mesmo
os que se abstiveram usaram de um direito inalienável que lhes assiste e que
vale tanto como o acto de expressar o voto em urna. Assim, num dia de emoções
fortes, houve vencedores e vencidos para todos os gostos conforme a área
ideológica em que nos posicionamos. Mas vendo bem as coisas, digerido que está
o acto eleitoral e numa fase pós-eleitoral de reflexão dos resultados, todos
poderão cantar vitória e considerarem-se todos eles os grandes vencedores nda
noite eleitoral.
A Coligação da Direita, em primeiro lugar, porque passados 4
anos de enormes sacrifícios, em que receberam um Portugal feito em frangalhos e
em que tiveram de respeitar e implementar o Memorando que a Troika nos impôs -
num momento de enorme fragilidade económica, social e financeira – vencer com
larga margem (6%) um Partido Socialista que muito prometeu inicialmente mas que
foi dando sucessivos tiros nos pés, não estaria no pensamento dos mais
otimistas que alguns meses antes davam a derrota como que quase adquirida. É
bom recordar que Passos se transformou
no primeiro líder europeu sob um programa de austeridade a ser reeleito ( o
caso inglês com David Cameron, também reeleito, é diferente pois o Reino Unido
não pertence ao Eurogrupo). Um Partido Socialista que,
embora sendo o grande derrotado destas eleições, acaba por se transformar no
fiel da balança num governo de uma Direita que não obteve maioria absoluta, com
um papel importante enquanto moderador e vigilante da governação. Um Bloco de
Esquerda, com uma percentagem elevada, muito por força de muitos votos
capitalizados e conquistados aos descontentes do PS e do Centro (Direita e
Esquerda) e transformando-se na terceira força política em representatividade
na AR, ultapassando o crónico PCP-PEV (CDU). A CDU que, embora derrotada em
toda a linha pelo BE, ultrapassou em votos e mandatos anteriores resultados e
derrotou a Direita através de uma maioria de Esquerda agora representada no
Parlamento.
O PAN (Pessoas, Animais e
Natureza) também ele um grande vencedor do acto eleitoral pois conseguiu,
contra todas as expetativas, eleger um deputado pelo círculo de Lisboa. E agora
os derrotados da noite: a Coligação PSD/CDS-PP porque , embora vencendo as
eleições, perdeu a maioria absoluta que detinha, o que a obriga a criar
compromissos, a assumir negociações e a fazer uma governação diferente. O PS ,
porque falha redondamente os objetivos a que se propunha, não vencendo as
eleições e sendo derrotado com uma diferença percentual que não se deve descurar.
A CDU, durante muito tempo a terceira força partidária, desceu um lugar na hierarquia dos lugares na
AR e foi derrotada de forma muito clara pelo BE. O PDR de Marinho e Pinto,
depois de muitas expetativas, foi um balão de ensaio que se esvaziou rotundamente,
não conseguindo sequer eleger um deputado. O mesmo vale para o LIVRE e o AGIR
que apesar de muito prometerem foram uns autênticos erros de casting, não tendo
também nenhum deles deputados eleitos. E pronto, temos uma nova realidade, com
novos desafios e perspetivas e cuja mudança, embora mais suave do que se
previa, deve ser levada em conta pois foi essa a vontade dos portugueses.
Passado o tempo da Troika e dos imensos sacrifícios - mesmo sob cautela e
algumas precauções – devem ser promovidas novas iniciativas de desenvolvimento
económico, novos incentivos ao crescimento e ao emprego e um olhar mais cuidado
à política social. Entramos em novos tempos, que obrigam a mais e diferentes
olhares que não só os direcionados à austeridade e à contenção. Os portugueses precisam de novos estímulos e
desafios acrescidos, rumo à competetividade algures e à melhoria do seu modo de vida.
Tivemos momentos de grande dificuldade que foram sendo superados. Chegou a
altura de um novo tempo e de uma mudança , qualitativa e com algum critério.
Para que os olhares do exterior continuem a acreditar e a ter confiança em nós.
E para bem de Portugal e dos portugueses.