Mário Russo |
A privatização da TAP já esteve na mesa de mais de um
governo como forma de se verem livres de uma praga. Passos Coelho vai no mesmo
sentido e já tem nova fórmula para se ver livre da empresa.
Tenho lido opiniões a favor da privatização, cujos
argumentos juntam verdades com mentiras ou pelo menos carentes de prova, para
concluírem que é inevitável a sua alienação para não falir. Nada que me comova
ou me convença da sua verdade. O que se percebeu com a recente negociata do
Governo com 9 dos 12 sindicatos da TAP (sindicatos à dúzia é mais barato), é
que este e os demais Governos se mostraram ávidos em se verem livres da empresa
pública por impotência e incompetência em lidar verdadeiramente com a situação
e atiram para o alvo da privatização num misto de raiva e ódio pela constante
oposição destes privilegiados e mimados funcionários: “ah é? Então vão ser
privatizados para ver o que é bom, seus malandros”.
O que de facto a empresa precisa é de um Governo competente
que enxugue a empresa em todas as vertentes, lhe estabeleça com clareza os
objetivos, metas, meios, deveres e direitos. O argumento da venda como solução
única é igual a tantos outros, do tipo “ou eu ou o caos”.
Agora o Governo apresenta o caderno de encargos em que
coloca como condição a quem comprar a empresa não poder despedir trabalhadores
e a cumprir o acordo de empresa (cardápio de privilégios indecorosos e ruinosos
para a empresa, vulgo erário público). O desastrado Ministro da Economia e o
Secretários de Estado dos transportes (e exímio vendedor de Swaps goela abaixo
ao Governo, quando estava no privado) veio dizer que a manutenção destes
privilégios de Marajá só era para os sindicatos que assinaram o acordo
(representam, em número, 30% dos funcionários), numa manifestação de puro
revanchismo e raiva, para além de uma ilegalidade que até o meu neto de 4 anos
diria que é um disparate. No dia seguinte, depois de alguém do PSD com bom
senso ter dito aos (in)competentes Governantes para terem juízo, deram o dito
pelo não dito, com a mesma cara de tacho, asseverando que o privilégio é para
todos os trabalhadores.
Fazendo fé no discurso, o comprador não pode fazer
despedimentos coletivos na companhia e aqui está toda a subtileza. Na verdade,
pode despedir como quiser, desde que não seja coletivo. É só começar a despedir
seletivamente os que não interessar. Aliás, só assim é que poderá aparecer
algum privado interessado…..., porque quem ficar com a empresa vai
dimensioná-la para as rotas que interessar (as rentáveis), despachando os que
estiverem a mais. Se não for assim, é bom para Portugal porque tenho dúvidas
que possa aparecer alguém a comprar a empresa amarrada de pés e mãos e impedido
de a reformar à sua semelhança.
Não sou contra privatizações, desde que justificadas, porque
o Estado não tem de estar em todos os negócios. Por princípio sou a favor da
economia estar na mão de privados com o Estado como regulador, fiscalizador e legislador,
com exceção de setores estratégicos e essenciais. O transporte aéreo para um
país que foi outrora um império, com interesses em vários continentes, que se
mantém e deve ser intensificado, não pode correr o risco de ser vendido a
privados que rasgam os acordos de manutenção do centro de decisão em Portugal e
as suas rotas diretas a esses destinos. É um caso estratégico que Portugal não
pode abdicar e perder como aconteceu com a CIMPOR, PT, EDP, com as
consequências que se conhecem.
Este episódio de trapalhadas revela o nível de seriedade e
de competência com que somos governados.