A nobreza da
política reside na luta por defender aquilo em que se acredita e animar os
outros a lutar por isso, procurando manter a chama acesa.
Não sei se é
possível ser diferente na política, sem entrar na maquinaria partidária.
Há quem
queira entrar na política e gostaria de intervir, mas paga um peso enorme e é
visto como persona non grata se não
ficar na defensiva e evitar expor-se com as suas ideias. Influir, criticar, pensar,
reflectir na política é algo mal visto.
Os outsiders
permanentemente sonham em participar no jogo político, mas não é fácil. Quem lá
está não aprecia muito a ideia e entende que está em causa o seu feudo. Por
outro lado, a política requer uma série de habilidades específicas e nem todos
conseguem fazê-lo. Há truques que têm que se aprender. Por exemplo não dizer
tudo que se pensa. Não se pode responder ao que lhe perguntam, sim ao que
gostariam que lhe tivessem perguntado. Neste aspecto António Costa é exímio e
Seguro nem tanto.
Por outro lado,
não se pode repetir algo negativo. Há que dar a volta e expressar-se pela
positiva. O dilema de dizer copo meio vazio ou copo meio cheio.
É naïf
pensar que quem vem de fora pode proceder de outra forma e de outra maneira.
Foi que aconteceu a António José Seguro, cheio de boas intenções.
A política é a arte do possível. Mas agora,
nem mais tarde ou amanhã. Não chega ter ideias que é o caso de Seguro, é
necessário actuar no momento certo, foi o que aconteceu com António Costa.
A arena política
tem destas coisas. De outro modo, os jornalistas não têm o perfil adequado para
tratar de assuntos de política. A política converteu-se em algo trivial, muito pessoal
e desagradável. Quando estás na política activa vives num mundo à parte, em que
só lês os jornais onde és referido, apesar de cada vez menos gente ler esse
tipo de notícias.
Em vez de procurarem
governar, vivem obcecados com histórias que não são importantes e tentam
controlar tudo e todos. Vieram quase todos da oposição mas confundem inimigos
com adversários. Assiste-se a um circo romano e a espectáculos desagradáveis e
degradantes de como se deve fazer política com golpes baixos e insultos, Esta é
uma das razões porque as pessoas estão enojadas com a política.
Esquecem-se
que a política tem regras. A democracia é o dissenso e o antagonismo não é uma
guerra. A luta é entre adversários com ideias diferentes não é uma luta entre
inimigos em que alguém tem que sair ferido ou morto.
Hoje é teu
adversário amanhã pode ser teu aliado numa coligação. As pessoas nem sempre
estão de acordo. A democracia tem de acomodar desacordos. O importante é manter
o nível numa disputa democrática e não ser uma guerra civil.
A forma de
fazer política e a classe política tradicional estão démodé. A crise económica,
desemprego, o estado social têm acentuado esse problema. Os partidos
tradicionais não nos têm oferecido soluções mas somente cortes. A democracia
não sobrevive sem soluções aos problemas.
Os vícios da
política e a deriva populista que começa a corroer o sistema. Um dos eixos do
mandato de António José Seguro foi a separação da política dos negócios, outro
foi a revisão do sistema eleitoral. Não tenho dúvidas que no futuro vai-se
converter em temas centrais na vida política portuguesa.
Outro
problema grave é a desigualdade. A falta de reforma fiscal leva a que a classe
média suporte um peso excessivo das obrigações do Estado levando ao descontentamento
e ao apoio de derivas populistas. Assim está acontecer com o furacão Marinho
Pinto. Se não há justiça social o sistema simplesmente não funciona. As grandes
empresas e as grandes fortunas têm que ter uma maior carga fiscal. O combate à
evasão fiscal deve ser um desígnio nacional, sendo ainda um flagelo social.
Os direitos
humanos assim como um simples direito de um cidadão - ser informado pelo governo,
como aplica os seus impostos. Esses direitos são a redenção do poder.
Os políticos
têm uma legítima ambição de poder e o seu campo de jogo mas as suas acções devem
incidir com rapidez e uma forma positiva na vida dos cidadãos para que estes
possam reconhecer o seu mérito e que algo se está a fazer.
Um político
deve saber mover-se entre os interesses, não tem tempo para o estudo e grandes criações,
necessitando de repouso e solidão. Todavia deve escutar, fazer ou não caso do
que escuta, mas deve sempre escutar. É o caso de António Costa perito em criar
pontes e acordos.
O meu receio
é o mesmo que Michael Ignatieff, «os populistas oferecem soluções falsas a
problemas reais».
Os
portugueses estão fartos destes políticos e desta política. Estão fartos de dar
oportunidades. Quando se deixa de acreditar na democracia pode acabar-se a
acreditar noutras coisas.
Sofro porque
os políticos não são uma esperança, sim um problema. Há um enorme desprezo pela
política e pelo compromisso. A maioria dos cidadãos acha que é uma perda de
tempo que todos os políticos são corruptos, uns mais outros menos, mas cada um
à sua maneira.
Portugal é o
pais do " vamos ver", " agora é que vai ser". Não sei se é
António Costa a solução num país em que os cidadãos já não crêem em nada, em figuras,
muito menos em partidos ou qualquer governo, nem temos a menor ideia do que vai
ser o nosso futuro.
JJ
*artigo publicado no PT Jornal
*artigo publicado no PT Jornal