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Miguel Mota |
Tem
sido declarado por dirigentes vários que muitos portugueses se endividaram
exageradamente e sem pensar. Daí resultou não serem capazes de cumprir os seus
compromissos, especialmente para com os bancos. O que esses dirigentes escondem
é que, na enorme maioria dos casos, esses portugueses pediram empréstimos que
eram compatíveis com o seu nível de proventos. É óbvio que, ao sofrerem o maior
corte de sempre no seu poder de compra, muitos deixaram de poder cumprir os
seus compromissos.
Não
pretendo dar a ideia de ser uma pessoa que sabe tudo. Mas, perante o que se me
afigura serem erros elementares (alguns verdadeiramente clamorosos), que nem
sempre vejo denunciados e ainda menos acompanhados do que podia e devia ser
feito, algo tenho escrito. E não só sobre matérias em que, por dever
profissional, é minha obrigação ter alguma competência – a investigação
científica, o ensino e a agricultura – mas até noutras de que não sou
especialista nem nunca pratiquei, como é o caso da política. Chamar
“democracia” a um sistema em que meia dúzia de ditadores “ditam” aos
portugueses em quem é que eles têm “licença” de votar, para eleger deputados é
algo que não compreendo. A democracia é, por definição, o sistema em que o
poder reside nos cidadãos e não apenas numa ou num reduzido número de pessoas.
Sendo eu o detentor do poder, considero que a mais importante liberdade é a de
delegar esse poder, para legislar e governar, em quem eu desejar. Essa era,
para mim, na outra ditadura, a falta de liberdade mais importante pois, embora
os cidadãos se pudessem candidatar a deputados, os entraves à propaganda e
eventuais manipulações faziam com que apenas fosse eleita a lista da União
Nacional. Muito mais importante do que aquela estúpida censura e falta de
liberdade de expressão de que, obviamente, também não gostava. Aos portugueses
chega-lhes a liberdade de expressão (que inclui o “direito” de insultar e
apedrejar) para se considerarem em democracia. Então, se se queixam do governo
que elegeram, só têm de se queixar de não ter eleito um melhor.
Em
nada incomoda os portugueses só poderem candidatar-se a deputados se estiverem
nos altos postos de um partido ou se fizerem um novo partido. Nem se fala na
alteração dos Artigos 149º e 151º da Constituição, como já propus, para haver
eleições livres.
Ao
que tudo indica, a grande maioria dos portugueses vai continuar a perder ainda
mais o seu já baixo poder de compra. A excepção é a minoria de ricos, que vai
continuar a engordar as suas fortunas, num escandaloso aumento do leque
salarial.