12/03/2014

PALAVRAS DE MARQUETEIRO POLÍTICO


Tereza Halliday
Marketing político não é a minha praia. Mas, como analista de discurso e eleitora, gosto de observar a argumentação verbal e não verbal dos candidatos. Encontrei uma fonte da propaganda eleitoral moderna em livrinho (12x16cm), lido durante o  carnaval: “Como ganhar uma eleição” – 2013, Ed. Edipro, 126p. Escrito por Quintus Tullius Cícero, no ano 64 A.C.  Aprendi que os consultores políticos do  século XXI não inovaram em nada e que a política não piorou, está na mesma. Ou, no dizer de Maria Cristina Fernandes, editora política do jornal Valor Econômico: “política nunca se escreveu com p maiúsculo. Talvez porque seja feita por gente”. Ela aconselha que os eleitores leiam esse pequeno manual, para entenderem melhor como são tratados em campanha e por quê.
             O autor o escreveu em forma de memorando para seu irmão Marcus Tullius Cícero, eminente advogado e orador, candidato ao posto de cônsul, o mais alto do governo romano e um dos cargos mais cobiçados do mundo antigo. O destinatário conseguiu ganhar a eleição.  Eis algumas orientações que inspiram marqueteiros políticos até hoje: “Não existe ninguém, exceto talvez os partidários ardorosos de seus adversários, que não possa ser trazido para o seu lado com trabalho árduo e favores apropriados (...)  Há três coisas que garantem votos numa eleição: favores, esperança e ligação pessoal. Você precisa esforçar-se para dar esses incentivos à pessoas certas”. Conseguir partidários de um amplo espectro de origens sociais está entre as metas recomendadas. Assim como, semear entre os adversários o medo de ser denunciadas por seus atos corruptos e tentativas de corrupção. Mesmo que não chegue a denunciá-los. O candidato deve também demonstrar gratidão e apreço por seus apoiadores, sempre. Não passar imagem de populista. E cativar a todos, principalmente os que creem ter uma ligação pessoal com ele: “Mostre-lhes que, quanto mais trabalharem por sua eleição, mais íntimo será o vínculo entre vocês”. E ainda: “Você deve pensar constantemente em publicidade”.
            Finalmente, esta descrição de Roma no século anterior à era cristã: “cidade formada de pessoas de todas as origens, um lugar de ardis, conjuras e vícios de toda espécie imaginável. Para qualquer lado que você olhe, verá arrogância, contumácia, malevolência, orgulho e ódio”. Parece com alguma capital de país da atualidade?