Tereza Halliday |
Marketing político não é a minha praia.
Mas, como analista de discurso e eleitora, gosto de observar a argumentação
verbal e não verbal dos candidatos. Encontrei uma fonte da propaganda eleitoral
moderna em livrinho (12x16cm), lido durante o carnaval: “Como ganhar uma
eleição” – 2013, Ed. Edipro, 126p. Escrito por Quintus Tullius Cícero, no ano 64
A.C. Aprendi que os consultores políticos do século XXI não inovaram em nada e
que a política não piorou, está na mesma. Ou, no dizer de Maria Cristina
Fernandes, editora política do jornal Valor Econômico: “política nunca se
escreveu com p maiúsculo. Talvez porque seja feita por gente”. Ela aconselha que
os eleitores leiam esse pequeno manual, para entenderem melhor como são tratados
em campanha e por quê.
O
autor o escreveu em forma de memorando para seu irmão Marcus Tullius Cícero,
eminente advogado e orador, candidato ao posto de cônsul, o mais alto do governo
romano e um dos cargos mais cobiçados do mundo antigo. O destinatário conseguiu
ganhar a eleição. Eis algumas orientações que inspiram marqueteiros políticos
até hoje: “Não existe ninguém, exceto talvez os partidários ardorosos de seus
adversários, que não possa ser trazido para o seu lado com trabalho árduo e
favores apropriados (...) Há três coisas que garantem votos numa eleição:
favores, esperança e ligação pessoal. Você precisa esforçar-se para dar esses
incentivos à pessoas certas”. Conseguir partidários de um amplo espectro de
origens sociais está entre as metas recomendadas. Assim como, semear entre os
adversários o medo de ser denunciadas por seus atos corruptos e tentativas de
corrupção. Mesmo que não chegue a denunciá-los. O candidato deve também
demonstrar gratidão e apreço por seus apoiadores, sempre. Não passar imagem de
populista. E cativar a todos, principalmente os que creem ter uma ligação
pessoal com ele: “Mostre-lhes que, quanto mais trabalharem por sua eleição, mais
íntimo será o vínculo entre vocês”. E ainda: “Você deve pensar constantemente em
publicidade”.
Finalmente, esta descrição de Roma no século anterior à era cristã: “cidade
formada de pessoas de todas as origens, um lugar de ardis, conjuras e vícios de
toda espécie imaginável. Para qualquer lado que você olhe, verá arrogância,
contumácia, malevolência, orgulho e ódio”. Parece com alguma capital de país da
atualidade?